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O Imperador Criança

A repetição do Imperador foi algo inesperada, mas ao que parece poderá ter sido muito produtiva. Havia algo a aprender e é sempre bom termos a segunda oportunidade.
Vamos ver o que aconteceu ao Alegria, o nosso Peregrino iniciado.

Depois de ter abandonado o Imperador e voltado ao seu trilho regular, Alegria encontrou um grupo de pessoas. Foi convidado a sentar-se e cear com elas. Aceitou de bom agrado pois a última vez que comera fora na meditação, e o seu corpo começava a ressentir-se.

Depois de comer e beber um bom vinho, adormeceu como há muito não adormecia, sentindo-se em paz e segurança. No mundo dos sonhos voltou a acordar e estava rodeado de espadas. As pessoas que tão bem o acolheram eram afinal guardas de um Imperador qualquer.

No meio daquelas armas, Alegria temeu pela sua vida. Sabia que esta dependeria da forma como seria capaz de resolver aquela situação. Lembrou-se que o Pajem de Bastões lhe oferecia momentos de iluminação, que este lhe traria a coragem necessária para agir e mentalmente a ele se uniu.

Enquanto estava neste transe, o exército começou a mexer-se e mesmo ausente Alegria compreendeu que alguém importante se aproximava. Recuperou os seus sentidos totalmente para poder estar o mais presente perante quem ali surgisse.

As espadas mexeram-se e pode ver à sua frente uma pequena criança, vestida de roxo. Compreendeu que este era o Imperador de que ouvira os homens falar. Aliviou um pouco a sua tensão pois a figura não austera.

O Imperador sentou-se junto a ele e como em gestos sincronizados, ao cruzaras suas pernas no chão, as espadas cruzaram-se novamente e fecharam o círculo.

Lembras-te de mim? Reconheceste-te em mim? Ou já passaram tantos caminhos que não sabes que eu sou quem tu és?

Confuso com aquele enigma, Alegria observou com mais atenção a pequena criança. De facto havia nele uns traços reconhecíveis. Olhou com mais atenção e centrou-se no olhar da criança. Quando o fez, a sua alma mergulhou dentre daquele ser e entrou num mundo muito conhecido. Alegria foi até à sua infância, estava no seu bairro a brincar com os seus amigos e para sua surpresa ele estava vestido de roxo, uma facha roxa sobre uma túnica branca. Alegria era a pequeno Imperador a brincar pelas ruas da vila, com uma espada de pau ao alto a matar os inimigos imaginários.

Quando regressou ao círculo de espadas, lágrimas corriam a sua face.

Ah, voltaste! Como estás? É bom saber que não preciso de te matar para te ter de volta. Porque me ignoraste durante todo este tempo. Não me reconheceste nas lágrimas que choraste à noite, na frustração de não conseguires o que desejavas, na irritação de lutar contra moinhos de vento? Bom, mas isso não importa. O que importa agora é que já sabes quem és e o que o teu interior deseja. Pega na espada e segue, sê guerreiro, serve o teu Imperador interior, não desistas das batalhas apenas porque tens de aprender. Luta, afirma-te, em ti e por ti. Deixa cair as máscaras que ainda te restam, parte-as todas para que nem tu te reconheças mais. Segue o teu caminho, convicto de que eu sou tu e tu és eu, unos na corrente de amor.

A prosperidade vem de dentro, sê rico nas tuas riquezas interiores e as exteriores nunca te faltarão. Aceita o que te é oferecido, seja uma espada ou um sorriso. Mergulha em cada experiência da vida, só assim aprenderás as lições que ela aguarda para te oferecer.

Posto isto, Alegria cerra os olhos para limpar as lágrimas que cessavam de cair e ao abri-los novamente encontra-se na cama segura e pacifica da comunidade que o acolhera.

O sol já ia alto e compreendeu que dormira até tarde, estava na altura de retomar o caminho. Saiu da cabana e encontrou um cavalo cheio de provisões que lhe serviriam para pelo menos um mês de caminho. Olhou em redor e não encontrou viva alma. Agradeceu em voz alta a quem o tinha ajudado e partiu, confiante que agora sabia trilhar o caminho da prosperidade.
Ora, que bela lição nos ofereceu o Imperador. Descobri com ela que todos temos em nós potencial imperador, mas que esse Imperador pode ser apenas uma criança, sábia, que governa com o coração e a mente em uníssono. Foi uma bela lição, sim senhor!
Na segunda hora de Júpiter do dia de Sol e de Santa Cecília

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