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Une Charogne

E a Morte acompanha-nos mais uma semana!!!

Rappelez-vous l'objet que nous vîmes, mon âme,
Ce beau matin d'été si doux :
Au détour d'un sentier une charogne infâme
Sur un lit semé de cailloux,

Les jambes en l'air, comme une femme lubrique,
Brûlante et suant les poisons,
Ouvrait d'une façon nonchalante et cynique
Son ventre plein d'exhalaisons.

Le soleil rayonnait sur cette pourriture,
Comme afin de la cuire à point,
Et de rendre au centuple à la grande nature
Tout ce qu'ensemble elle avait joint ;

Et le ciel regardait la carcasse superbe
Comme une fleur s'épanouir.
La puanteur était si forte, que sur l'herbe
Vous crûtes vous évanouir.

Les mouches bourdonnaient sur ce ventre putride,
D'où sortaient de noirs bataillons
De larves, qui coulaient comme un épais liquide
Le long de ces vivants haillons.

Tout cela descendait, montait comme une vague,
Ou s'élançait en pétillant ;
On eût dit que le corps, enflé d'un souffle vague,
Vivait en se multipliant.

Et ce monde rendait une étrange musique,
Comme l'eau courante et le vent,
Ou le grain qu'un vanneur d'un mouvement rythmique
Agite et tourne dans son van.

Les formes s'effaçaient et n'étaient plus qu'un rêve,
Une ébauche lente à venir,
Sur la toile oubliée, et que l'artiste achève
Seulement par le souvenir.

Derrière les rochers une chienne inquiète
Nous regardait d'un oeil fâché,
Épiant le moment de reprendre au squelette
Le morceau qu'elle avait lâché.

Et pourtant vous serez semblable à cette ordure,
A cette horrible infection,
Étoile de mes yeux, soleil de ma nature,
Vous, mon ange et ma passion !

Oui ! telle vous serez, ô reine des grâces,
Après les derniers sacrements,
Quand vous irez, sous l'herbe et les floraisons grasses.
Moisir parmi les ossements.

Alors, ô ma beauté ! dites à la vermine
Qui vous mangera de baisers,
Que j'ai gardé la forme et l'essence divine
De mes amours décomposés !

Charles Baudelaire

Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos 
Numa bela manhã radiante: 
Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos, 
Uma carniça repugnante. 

As pernas para cima, qual mulher lasciva, 
A transpirar miasmas e humores, 
Eis que as abria desleixada e repulsiva, 
O ventre prenhe de livores. 

Ardia o sol naquela pútrida torpeza, 
Como a cozê-la em rubra pira 
E para ao cêntuplo volver à Natureza 
Tudo o que ali ela reunira. 

E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça 
Como uma flor a se entreabrir. 
O fedor era tal que sobre a relva escassa 
Chegaste quase a sucumbir. 

Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço, 
Dali saíam negros bandos 
De larvas, a escorrer como um líquido grosso 
Por entre esses trapos nefandos. 

E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga, 
Ou esguichava a borbulhar, 
Como se o corpo, a estremecer de forma vaga, 
Vivesse a se multiplicar. 

E esse mundo emitia uma bulha esquisita, 
Como vento ou água corrente, 
Ou grãos que em rítmica cadência alguém agita 
E à joeira deita novamente. 

As formas fluíam como um sonho além da vista, 
Um frouxo esboço em agonia, 
Sobre a tela esquecida, e que conclui o artista 
Apenas de memória um dia. 

Por trás das rochas irrequieta, uma cadela 
Em nós fixava o olho zangado, 
Aguardando o momento de reaver àquela 
Náusea carniça o seu bocado. 

— Pois hás de ser como essa infâmia apodrecida, 
Essa medonha corrupção, 
Estrela de meus olhos, sol de minha vida, 
Tu, meu anjo e minha paixão! 

Sim! tal serás um dia, ó deusa da beleza, 
Após a benção derradeira, 
Quando, sob a erva e as florações da natureza, 
Tornares afinal à poeira. 

Então, querida, dize à carne que se arruína, 
Ao verme que te beija o rosto, 
Que eu preservei a forma e a substância divina 
De meu amor já decomposto! 

BAUDELAIRE, Charles. "Une charogne". In: Les fleurs du mal. Trad. de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p.172

Na terceira hora de Vénus do dia de Sol, S. Tiago Maior, Cristóvão, S. Valentina, S. Tomás Kempis

Comentários

  1. Shin

    Excelente post! Gostei muito do vídeo e o poema é lindo, tão intenso...

    Fez-me lembrar um poema de António de Castro, que há tempos coloquei na Dupla, e que começa assim:

    Já fui flor, já fui bonina
    Agora estou desta sorte
    Fui o retrato da vida
    Agora sou o da morte.

    Bjs

    ResponderEliminar
  2. É verdade que houve coisas que já devia ter deitado fora a semana passada... e não consegui, adiei, adiei. mais uma semana? ainda bem... assim tenho mais uma semana para integrar essa energia e livrar-me de uma vez por todas de um apego (pelo menos um). Depois de me libertar deste um, sei que há muitas mais coisas que vão florescer. Beijos :D

    ResponderEliminar
  3. arKana

    olha também eu, nem imaginas a minha cara quando depois de baralhar e baralhar...saiu a Morte...

    É desta que esse apego se vai, mas de facto, precisava de mais tempo, pois só me determinei no fim-de-semana!

    Vamos juntas para a Liberdade :)

    ResponderEliminar

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