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O princípio da realidade e o Superego ou simplesmente Saturno

No homem, Saturno representa a consciência já formada e amadurecida, com mecanismos severos construídos com os fins de conter os impulsos primitivos e agressivos e consolidar a inserção e manutenção adequada do homem na sociedade.

No desenvolvimento do homem, Saturno representa um estágio que na criança é correspondente ao que se chama de Complexo de Édipo.Complexo este que levará à etapa final de consolidação do superego e à introdução do princípio da realidade.

Em primeiro lugar, vamos estudar o que é o princípio da realidade e superego.
Freud, quando formulou sua teoria do aparelho psíquico, disse que este era formado por 3 partes distintas; o ID., o EGO e o SUPEREGO.


O ID representa aquela instância do aparelho psíquico que já nasce com o homem, representando todos os desejos e impulsos instintivos. Quando o bebé nasce, ele é puro ID, vivendo e comportando-se em função dos seus desejos, numa busca constante de prazer e fuga do desprazer. Tudo o que favorece e permite a sobrevivência dá prazer, e tudo o que ameaça a sobrevivência e o desenvolvimento é doloroso.

Por exemplo a fome. O bebé chora convulsivamente quando tem fome, pois o alimento permite-lhe sobreviver e desenvolver-se. Consequentemente, o saciar é um acto de êxtase para o bebé. O mesmo acontecerá com o frio/calor, o aconchego, o carinho, os cuidados.

O ID funciona de acordo com o princípio do prazer. Como vimos este princípio rege-se pela busca da satisfação imediata de qualquer necessidade. Por exemplo, o bebé chora convulsivamente quando quer mamar. Quer, e quer agora, não aguenta esperar nem um minuto, se colocamos o dedo, a ponta da almofada ou a chupeta na boca do bebé, ele tentará mamar, e imediatamente pára de chorar. A criança pequena (antes do três anos) quando quer um brinquedo quer agora, já. Não pode esperar, e qualquer brinquedo serve. Não tendo brinquedo, uma panela e uma colher servem de tambor, e as suas necessidades são satisfeitas, a criança pára de chorar. Depois de muito pouco tempo, o brinquedo já não satisfaz mais e uma outra coisa qualquer será desejada. O princípio do prazer funciona assim. Como o que predomina é a urgência de satisfação, troca-se o objecto desejado facilmente por outro.

O princípio da realidade vai surgindo com o desenvolvimento de outra instância do aparelho psíquico, o SUPEREGO. Este princípio é o oposto ao princípio do prazer. Rege-se não pela satisfação imediata, mas pela capacidade de adiar a satisfação imediata, de aguentar a falta e esperar para conquistar o objecto de desejo que é específico e insubstituível.

Um exemplo é a criança mais velha que consegue esperar até ao Natal para ganhar aquele brinquedo específico, que vai satisfazer o seu desejo. O princípio da realidade permite que o indivíduo aguente esperar para ter aquilo que deseja, sem ter que substituir por outra coisa qualquer para satisfazer-se imediatamente. Também permite que o indivíduo consiga conquistar o que deseja, seja através do bom comportamento, ou através do esforço/trabalho. Também permite que o indivíduo aprenda a gerir o tempo. Da mesma forma, transformará os desejos mais primitivos em mais elaborados, por exemplo transformará o impulso de fome em ambição. E todos estes princípios são princípios regidos por Saturno.

É importante ressaltar que os dois princípios podem funcionar no homem adulto. Aqueles que funcionam mais a partir do princípio da realidade geralmente estão mais adaptados para a realidade adulta.

O SUPEREGO, responsável pelo princípio da realidade, estrutura-se definitivamente através duma vivência universal a que Freud chamou complexo de Édipo.

O complexo de Édipo é uma experiência arquetípica, isto é, que todas as crianças passam. Entre os 3 e 6 anos de idade, a criança começa a “identificar-se amorosamente” com o progenitor do sexo oposto. Essa identificação amorosa coincide com a descoberta da sexualidade na criança, e então ela “apaixona-se” por este progenitor.

Quando falamos em sexualidade e paixão na psicologia infantil, falamos em formas diferentes de descoberta e expressão afectiva e não de uma sexualidade e paixão adultas. Nesta altura a menina “apaixona-se” pelo pai e o menino pela mãe. Também há uma identificação com o progenitor do mesmo sexo, não como figura amorosa mas como modelos de imitação. A menina, identificada com a mãe, trata a boneca como se fosse a filha, faz a comidinha, arruma a casinha, numa imitação clara da figura materna. O menino fará o mesmo, indo trabalhar, defendendo a casa e a família de possíveis invasores, etc.

Esta identificação permite a construção interior de uma imagem de mãe/mulher e pai/homem. E também permitirá a criança criar internamente recursos para “rivalizar” com o pai de mesmo sexo, na conquista do objecto de desejo – o pai de sexo oposto, permitindo a criança ser “a(o) namoradinha(o) do pai (mãe)”. Esta rivalidade cria dentro da criança uma contradição de sentimentos, de amor e ódio simultaneamente pelo progenitor do mesmo sexo. Também criará na criança a fantasia de ser perseguida, punida e castrada por este progenitor. Essas situações podem ser percebidas numa espécie de luta simbólica, onde o menino compete com o pai pela mãe, mas que no final quem deverá perder é a criança. A criança ao sentir esse conflito interior de amor/ ódio, sentirá um misto culpa e frustração, pois perceberá que está a mais na relação real amorosa entre seus pais.


Como estes sentimentos todos são demasiados dolorosos para conviver na consciência, serão completamente reprimidos para o inconsciente, e tal situação não será mais relembrada conscientemente, trazendo um sentimento horrendo quando imaginada a fantasia incestuosa. A resolução do complexo de Édipo é sempre dolorosa, e por isso a criança de 6 anos viverá uma fase de quase aversão aos indivíduos de outro sexo, que só mudará com a adolescência. Esse período é chamado de LATÊNCIA, período onde as meninas detestam os meninos e vice-versa, e onde toda a energia psíquica será dirigida para a socialização e desenvolvimento intelectual, o que coincide com a entrada para a escola.

É importante saber que o complexo de Édipo ocorre com todas as pessoas e tem diferentes resoluções, uns lidando melhor que outros, e com resultados e consequências diferentes, mas para todos ele representa a consolidação da estrutura psíquica que chamamos SUPEREGO, isto é aquela instância responsável pela contenção dos desejos do ID, responsável pela introspecção do NÃO, do estabelecimento da noção do que é proibido, o que não pode, o que é certo e errado, o medo da castração e punição.

Todos estes conceitos são atribuídos como função de Saturno, bem como medo, rejeição, castração, proibição, culpa, repressão inconsciente, frustração, limite e regra, e também início da socialização e canalização dos impulsos para objectivos socialmente requisitados.

autor desconhecido
A continuar...

Na primeira hora de Saturno de um dia de Lua e de S. Lauro, Santa Clara de Monte Falco, S. Agapito e S. Estanislau

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