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Duas Mortes Uma Vida


Isis sentia que nada a iria parar e acreditava que essa energia toda vinha de ter estado em contacto com a sua casa, a sua comunidade, através da visita do seu amigo Hierofante. Sabia que poderia mudar o quer que fosse, a sua energia estava imparável.

Todavia, o inesperado actua e Alegria perde o controlo da carruagem e o acidente é impossível de evitar. Com a força da gravidade a actuar a carruagem desliza para a direita, as rodas soltam-se e Isis é expulsa bruscamente.

Apesar de não se sentir muito dorida, há uma certeza no seu interior, algo aconteceu à criança. Isis sente a vida que se gerava em si a desaparecer e com os olhos em água enfrenta Alegria, que rapidamente a estava a ajudar. O aborto foi inevitável. 

Isis recolheu-se nessa noite com um pesar no seu coração. Havia um buraco na sua alma, mas ela sabia que ainda havia algo para compreender. A paciência seria agora a sua melhor conselheira. Enquanto começava a dormitar e a perder o controlo dos seus sentidos, foi invadida por uma visão.

Um ser escuro, composto por restos de corpos antigos de animais, estava na sua frente. Na mão um sabre. 

«Mais uma vez te encontras num caminho bifurcado. A escolha que fizeres agora ditará o desfecho do teu futuro. Virei mais vezes visitar-te se a escolha não for correcta. É momento para limpeza de karma e se o fizeres grandes sofrimentos serão evitados.»

Isis compreendia perfeitamente o que lhe estava a ser dito. Ela sabia que estava a pagar o preço de ter saído mais cedo do que o previsto da comunidade. 

«Por agora deixo-te a carpir as tuas mágoas, fá-lo. Fecha o ciclo, limpa a tua alma com a água do sofrimento. Mas amanhã terás de estar pronta para enfrentar e defender a todo o custo aquilo em que acreditas.»

E com estas palavras desapareceu ou Isis adormeceu profundamente.

Quando acordou...sentia-se impotente para agir. Era como se os seus pés e mãos estivessem atados. Ela sabia que a sua escolha seria de grande importância e o terror de errar paralisava-a. Afinal, já perderá a vida por erros ou antecipações de acções...mas teria de agir, não podia ficar à espera.

O ser que a visitara na noite anterior esperava-a outra vez ao virar da esquina e, assim que Isis semicerrou os olhos, ela apanhou-a.

«Se queres atingir o alvo, terás de o fazer com um metal afiado. Para haver cura é preciso coragem e uma mão firme. Suga o veneno com a chama da cura.»

Isis sabia que estava a ser forçada a agir. Parecia que a urgência da acção lhe era imposta pelo exterior e não havia saída possível. Errar ou acertar seria apenas um jogo de sorte. O medo, o horror, o terror de errar enraizava-se e ela petrificava. 

O combate interior teve início. Isis mergulhou dentro das suas águas interiores e foi procurar a raiz daquela emoção. Enquanto mergulhava várias imagens invadiam a sua mente mas nenhuma permanecia o tempo necessário para ser descodificada, até que...

«Eu sou a Mãe do Amor que oferece do seu graal para o bem de todos. O meu gole é infinito como o mar. Abre o teu coração alegremente e recebe.»

Foi nesse momento que tudo se encaixou na sua alma. A lama deu lugar a águas límpidas e a Lua Cheia reflectia-se nelas. Isis compreendeu finalmente que ela abrira dentro de si o espaço para que a maldição da noviça actuasse. Fora ela que abrira as portas da sua mente a essa possibilidade, quando acreditou que corria perigo. Não mais!

Ao despertar, Isis nem necessitou de estar em completo alerta para deslumbrar que tudo estava mudado. Ela já não era a mesma, outra vez! 

«Vais-me abandonar? Agora que já não temos a criança...vais regressar. Sim, compreendo que será pelo melhor, pelo menos corrigirás o erro.» 

«Alegria, não há erros na minha vida, apenas atalhos mais longos. E não, não te irei abandonar. O que está feito não pode ser alterado, mas aprendido para não voltar a ser repetido. Seguimos juntos. Rumo a um novo começo.»

A Lua estava majestosa no céu negro e estrelado, era um cenário daqueles que só de vez em quando se conseguem ver. As suas bênçãos caíram em cima deste casal, que, contra todas as probabilidades, ainda continuava junto. Era mais uma vez, o triunfo do Amor. Nada nem ninguém os iria parar, essa era a certeza de alma de Isis.

Na primeira hora de Marte do dia de Lua, Nossa Senhora dos Anjos, S. Estêvão Papa, S. Eusébio de Vercelli

Comentários

  1. ..."não há erros na minha vida, apenas atalhos mais longos."

    Que post...

    Duas mortes uma vida acho que resume bem o que aqui senti quando li.

    Olha minha irmã, não podia vir mais a propósito com a grande Cruz aí no céu a acordar as feridas antigas, a remexer o passado, a abanar o presente que já passou de prazo.

    O karma e o que perdeu sentido para o nosso caminho estão à nossa frente para que o encaremos e o resolvamos para que com a Morte venha a Vida. Uma nova Vida.

    A mim este post foi direitinho onde devia ir...

    Reconhecer e perdoarmo-nos pelos atalhos que nos levaram ao pântano. Escolher outro trilho. Iluminado pela compreensão de que só o AMor, de facto, é real...

    beijo sis e tks

    ResponderEliminar
  2. Se achas que este foi de propósito com a Cruz....espera por saber qual a carta oculta deste mês...ah espera...já sabes LOLOLOL

    Está quase para sair os dois posts da carta oculta e a desta semana...grandes sintonias!

    Quanto a este post, foi uma morte, a primeira dura e forte a segunda mais suave e intimista!
    O renascimento deu-se agora é a hora da Mãe nos dar colo!

    BEijocas e até amanhã (porra...tão cedo!)ehehhehe

    ResponderEliminar
  3. Beleza a quanto obrigas!
    Traz o Om, para ficar à nossa espera na praia.
    Pode não querer vir mas depois até fica contente loooollll

    beijo

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  4. LOL isso é que ia ser bom!!! se ele sabe que o andas a gozar assim em público, não vai ser bonito!!!

    BEijocas sis :)

    ResponderEliminar

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