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Uma ida ao passado com e no Mundo

Depois de ter passado a Prova da Verdade, Alegria sentia-se no topo da montanha. Nada o poderia parar, ele estava cheio de energia e confiança. Era ele e o caminho, nada mais.

Sentia-se muito sociável e, por isso mesmo, apareceu à sua frente uma aldeia. Havia uma azáfama nas ruas, a aldeia transbordava a vida. Das chaminés saía fumo, as crianças brincavam com aros de ferro que faziam girar verticalmente com a ajuda de um pau. As mulheres e homens transportavam bens de um lado para o outro. Até os animais pareciam ocupados, observando a correria humana.

Quando se aperceberam da presença de Alegria o ancião, misteriosamente saído de uma das cabanas, aproximou-se e acolheu o nosso peregrino. Feitas as apresentações, Alegria foi colocado num pequeno bar onde poderia conviver com os locais, pelo menos aqueles que não tinha tarefas para fazer. A aldeia estava a preparar as festas da Primavera. 

Porém, passado um bocado, Alegria sentia-se inútil. Não queria estar a desperdiçar a sua energia em conversas frívolas, tinha mais o que oferecer, além da sua boa conversa. Foi ter com o ancião e perguntou se poderia ajudar alguém, não lhe apetecia ficar na sorna quando a Aldeia transpirava a vida e ação. Foi-lhe, então, incumbida a tarefa de ir preparar a lenha para as fogueiras noturnas. Hoje, ia haver um pequeno ritual de acolhimento à Lua Nova. Segundo esta população, era a última Lua Nova em que o Deus estava em Água, seguindo o seu raciocínio, ele iria mudar-se para as terras do Fogo, por isso, era preciso começar a conectar com essa energia.

Alegria foi. Enquanto andava a juntar a madeira seca, tarefa difícil após as chuvadas de inverno, começou a sentir que havia um perigo qualquer ali por perto. Observou o pequeno bosque e não conseguiu ver nada. Regulou a sua respiração para poder ficar mais facilmente em contacto com o seu interior. Contudo, nada do que fazia lhe mostrava onde estava esse perigo.

Continuou a sua tarefa. Reuniu a maior quantidade de madeira que conseguiria depois transportar e foi então, quando estava a colocar o último torro nos seus braços, que um flash o invadiu. Alegria estava a recordar a sua estadia na comunidade onde conhecera Isis, dentro de si os sinais de medo deram início a uma tempestade de emoções. Toda a confiança que sentira antes, aquela sensação de estar no topo da montanha, abandonou-o. Restava agora apenas uma insegurança gigantesca.

Regressou à aldeia, com o coração inundado de medo e sentimentos conflituosos. Foi ter com o ancião, mas, enquanto se dirigia à cabana dele, foi interrompido por um aldeão que caminhava com um cavalo.
«Vejo que foste à floresta. E regressas inquieto. Esta floresta é poderosa. Devias ir descansar antes de ir ter com o Lirmen, pois ele não te dará resposta.»
Alegria agradeceu a opinião, mas decidiu entrar na mesma.

Lirmen, o ancião, esperava-o com uma caneca de chá. Sentaram-se numa mesa junto ao forno e beberam o chá em silêncio. Alegria começou a sentir o negro a desaparecer e reconheceu o chá, Cinnamomum Camphora. Sorriu e agradeceu. O sorriso foi retribuído, mas o silêncio permanecia. Foi Alegria que o quebrou, decidira contar tudo o que tinha sentido ao estar na floresta.

«Pisaste solo sagrado. Os Deuses trouxeram-te aquilo que precisavas de ver que não estava resolvido.»
«Foi por isso que me mandaste lá? Sabias que iria acontecer isto?»
«Não sabia, mas deseja saber se eras digno de permanecer na nossa festa hoje à noite. Sabes, muitos são aqueles que se intitulam de mestres e místicos procurando o caminho, mas poucos são os que trilham o verdadeiro caminho. Ao teres a coragem de vir falar e ser honesto comigo, mostraste que está pronto para aprender. Desejas a Verdade. É bom saber que regressaste a casa!»

Alegria compreendeu imediatamente aquelas palavras de acolhimento. Iria ficar por ali e compreender o porquê daquele flashback. Tudo se iria resolver, bastava que ele encontrasse a sua Força.

Na terceira hora de Sol do dia de Sol, S. Rodrigo, S. Sancha, S.Eufrásia

Comentários

  1. "A verdade" ... sim essa palavra que tantas vezes é esquecida por muitos.
    Porque é ocultada tantas vezes? Será em prol de um bem estar supérfluo? Será que é por achar que ignorando-a se consegue ir ao encontro do objectivo pretendido.

    Nesta belíssima história revela precisamente o contrário.

    Não há nada melhor que sermos verdadeiros connosco próprios e com os outros.

    ResponderEliminar
  2. Estrela.Dourada

    belas palavras, muito verdadeiras para mim.
    Acredito que na maioria das vezes fazemos sacrifícios em prol do bem estar comum, que acaba, mais cedo ou mais tarde, por se revelar completamente inútil. Não há nada mais verdadeiro que termos de ser verdadeiros connosco próprios :)

    Obrigada pela participação. Um abraço

    ResponderEliminar

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