Avançar para o conteúdo principal

Memórias ancestrais - 6 de Copas

A hora nunca mais chega e ela fica impaciente. Não há nada que mais preze do que estes encontros. Olha para a janela e observa o voo dos pássaros, eles indicam-lhe a passagem do tempo. «Será que já embarcaram e eu posso ir segura?» pensa.

Arrisca, já que a vontade é tanta que ela mal se controla. 

Inicia a longa subida que a levará à torre do Eremita. O caminho é duro, cheio de curvas apertadas entre arbustos frondosos e pedras duras instáveis, mas nada a demove. Estes encontros representam a busca do Graal, aquela coisa que ele lhe gosta de falar mas que ela ainda não compreende. Ele fala de forma esquisita, ela simplifica e ensina-lhe a linguagem das gentes comuns, algo que ele já se esqueceu.

Qual será a lição de hoje? Nomes de árvores ou plantas ou será que vão fazer poções. Ela gosta dessa parte das poções, mas nada lhe dá mais prazer do que ir para o meio da floresta falar com as árvores e pedir conselhos sobre que tipo de plantas deve colher para criar a poção que tira os gazes do jantares condimentados da mãe. Elas falam tanto e ela fica feliz, gosta de aprender os seus nomes, não aqueles que ele lhe ensina, Morus nigra, Eucalyptus spp, Carya illinoinensis ..., mas os verdadeiros.

Quando chega ele não está. Espera um pouco cá fora, mas passado pouco tempo desiste, podem vê-la ali. Entra, sobe as escadas e senta-se na mesa de trabalho à espera. Repara que na noite anterior ele estivera a trabalhar naquela poção mágica para curar as maleitas dos olhos. Lê e pensa...um pouco da Eufrásia e talvez resulte melhor. 

«Euphrasia officinalis, será isso?» ouve nas suas costas.

Ele tinha esse dom, surgir sem ser reparado, já para não falar na mania em lhe ler os pensamentos. 

Sem se sentir incomodada, abraça-o. Vê-se o amor que nutre por ele. Ele retribui com um honesto afagar de cabelos. 

«Foi mesmo isso que pensei, por isso saí e fui buscá-la. Hoje vamos preparar esta poção, os meus olhos estão cada vez mais cansados. Chegará o dia em que também tu terás de partir e aí ficarei só, sem olhos, não servirei para nada.»

«Lá estás tu a dizer disparates, nunca sairei daqui. Será mais fácil seres tu a partir que eu. Ainda tenho tanto para aprender, porque havia de partir. Além disso, nunca te quero abandonar.» E nisto agarra-se à sua cintura, num abraço apertado.

Ele, dentro de si, sabe que as coisas não serão assim, mas também sabe que não vale a pena dizer mais nada. Teimosa como é, só serviria para se desviarem do trabalho e começarem uma verdadeira discussão sobre as emoções. Um dia talvez, nos voltemos a encontrar.

Na segunda hora de Lua do dia de Marte, S. Possidónio, S. Pascoal, S. Torpes

Comentários

  1. ´m seepchless...

    Este veio sabe-se lá de onde...quanto poder.
    E mais não digo, que não consigo.

    beijos bruxa

    ResponderEliminar
  2. IdoMind my love

    veio mesmo sabe-se lá de onde...do fundo da minha alma, de memórias antigas...teve de sair, foi o que foi!

    Beijoca bruxa mor

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Grata pelas tuas palavras e que o Amor e a Harmonia acompanhem os nossos passos!

Mensagens populares deste blogue

O círculo e a cruz - significado 3

O círculo e a cruz - significado 1 O círculo e a cruz - significado 2 Este glifo também foi escolhido para representar o símbolo do feminino, o que também está profundamente associado a Vénus. Vénus representa uma diferenciação do feminino lunar, que está mais associado ao arquétipo materno. Vénus representa o feminino em si, a noção de fêmea e mulher. No mapa astral de uma mulher, Vénus revelará as qualidades que a mulher se identifica para se definir como mulher, como a mulher lida e expressa sua feminilidade. No mapa de um homem, Vénus mostra como ele lida com seu lado feminino e qual é seu arquétipo de mulher, quais as qualidades que, para ele, uma mulher deverá ter. Além disso, em Vénus começa-se a manifestar a expressão de amor/sexualidade, e amor/paixão (identificação excessiva com o outro). Este processo complementa-se com o planeta a seguir, Marte, mas tem início em Vénus. Vénus revela a necessidade passivo/feminina de tornar-se desejado, atraente, sedutor. Marte com...

Chockmah e Binah

No último texto de Cabala falámos sobre Kether e dissemos que para esta esfera e as suas qualidades se manifestarem teria de haver a forma e a acção. Assim é a razão pela qual estas duas esferas se manifestaram: Chockmah, a Sabedoria, foi a força que saiu da Coroa, foi o impulso da criação, o instinto divino, representa o Pai na sua capacidade criadora, o fogo, o masculino, e Binah, o Entendimento, é a forma da criação, é o campo necessário para que a criação se realize, é a Mãe, o feminino. É necessário falar destas duas esferas em conjunto, mais do que as outras, por elas serem os opostos, por elas comporem a tríade divina, o triângulo superior de onde descemos para integrar esta vida. Kether dividiu-se nas suas duas polaridades, a sua energia andrógina deu origem aos opostos e assim se criou o princípio masculino e o princípio feminino. Primeiro foi Chockmah que surgiu no seu ímpeto de criar, aqui ficaram reunidas toda a Força e Acção, esta esfera encerra em si toda a Sabedoria...

A Torre e o Pajem de Espadas

A semana que terminou esteve a ser influenciada pela energia da Torre. Espero que o raio divino não tenha sido muito severo, por estas bandas as coisas correram de forma fluída e não houve grandes catástrofes. Contudo, o registo de hoje serve para reflectir sobre um insólito desta semana. Nunca tal me havia acontecido, durante 4 dias consecutivos a energia do dia foi o Pajem de Espadas. Quando na 4.ª feira saiu, meditei e avancei. Na 5.ª a mesma coisa, mas até aí nada de estranho, é comum acontecer sair dois dias seguidos a mesma carta. Na 6.ª outra vez e aí registei o insólito, mas foi só mesmo quando no sábado me voltou a sair o Pajem de Espadas que parei e pensei: «Isto não é normal!» Ora pois então vamos lá ver o que nos diz este Pajem na semana da Torre. Go your own road  by ~alltelleringet O naipe de Espadas está relacionado com o Ar, portanto a nossa expressão. Sendo o Pajem a primeira figura da corte representa o aspecto mais denso, a Terra. Desta forma o Paj...