não me recordo quando nasceu em mim esta paixão pela poesia. sei que não existiu sempre. dos primeiros anos de escola não tenho recordação de ter lido ou ouvido poesia. em casa? sim, deve ter sido em casa. as mulheres lá de casa tinha cadernos secretos onde desenhavam letras que formavam palavras. mas os desenhos eram diferentes dos textos que lia na escola. faziam rectângulos. uns deitados. outros em pé. eram formas, como podiam ser palavras. talvez fosse esse o segredo que escondiam de mim.
deve ter sido aí, em casa, nos cadernos secretos. a paixão liga bem com o secreto. deve ter sido aí. sim, creio que foi aí, nesse secretismo que nasceu esta paixão pela poesia.
na escola apresentaram-me outras mulheres com livros de palavras estanhas mas que não eram secretos. lembro-me de me apaixonar pela primeira vez por uma mulher. sim. lembro-me de Florbela bem cedo na minha vida. a romântica sofrida. a dor. a noite. a morte. a paixão. aquela que me permitia ler os seus segredos. o seu livro não era secreto. partilhávamos uma paixão. apaixonei-me. entreguei-me aos seus desvairos. as suas dores eram agora as minhas dores. as suas lágrimas na minha face. foram noites intensas que vivemos juntas. quantas vezes os seus desejos eram os meus:
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…»
deve ter sido aí, em casa, nos cadernos secretos. a paixão liga bem com o secreto. deve ter sido aí. sim, creio que foi aí, nesse secretismo que nasceu esta paixão pela poesia.
na escola apresentaram-me outras mulheres com livros de palavras estanhas mas que não eram secretos. lembro-me de me apaixonar pela primeira vez por uma mulher. sim. lembro-me de Florbela bem cedo na minha vida. a romântica sofrida. a dor. a noite. a morte. a paixão. aquela que me permitia ler os seus segredos. o seu livro não era secreto. partilhávamos uma paixão. apaixonei-me. entreguei-me aos seus desvairos. as suas dores eram agora as minhas dores. as suas lágrimas na minha face. foram noites intensas que vivemos juntas. quantas vezes os seus desejos eram os meus:
«Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…»
ai! a Charneca em Flor.
depois dela vieram muitos. umas outras mulheres. alguns muitos homens. todos eles me arrebatavam a alma. deixam-me condoída. prisioneira de emoções alheias. mas faziam-me sentir viva. quando desesperada abria um dos livros, daqueles não secretos, e buscava as palavras para curarem as dores da minha alma. eles eram a minha bíblia. na mesinha-de-cabeceira, à direita lá estava ela de encadernação dura e castanha, à esquerda estavam todos eles, de capa muito mole. amontoados. em pilha. a minha Torre de Babel.
sim, creio que foi assim que nasceu em mim esta paixão. a poesia é a cura da minha alma.
Na primeira hora de Lua de um dia de Marte e de S. Rufino, S. Donatila, S. Máxima, S. Abdonio e S. Seneno
Na primeira hora de Lua de um dia de Marte e de S. Rufino, S. Donatila, S. Máxima, S. Abdonio e S. Seneno
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