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Uma limpeza de alma através da Morte

Ísis e Alegria não se entenderam, a Morte pela qual tiveram de passar foi dura demais, e ao invés de se terem unido, foram cada vez mais se distanciando. Porém, através do seu distanciamento, nós aproximamo-nos novamente da sua história.

Eles voltaram ao Grimoire, com a Morte se foram e com ela regressam. Foi uma semana de conclusões, buscas interiores e despertares. Vamos ver como andam estes dois:
As discussões começaram a surgir por tudo e por nada. Ora era Ísis que exercia a língua viperina da crítica  à pessoa que ele era, ora era Alegria que escrutinava a vida espiritual dela. As palavras magoaram, como espadas trespassando a alma de cada um. Quanto mias feridos se sentiam mais ferozes se tornavam, curioso, como nem Ísis, uma iniciada nas Artes, se conseguia afastar de tal egrégora. 

A luta do Ego durou por muito tempo. Chegou a impedir que cada um pudesse exercer a sua função de escolha, pois estas eram tomadas em função do que o outro permitia, ora fosse por um deles proibir o outro de determinadas acções, ora por as escolher serem feitas em função do que iria irritar mais. E nesta onda de enganos, o amor foi passando para o seu oposto e sempre que se olhavam, onde antes havia amor e admiração, havia repulsa e ódio.

Lembravam-se em segredo como tiveram outros sonhos antes de se terem unido, cada um recordava no seu coração a liberdade e alegria que sentiam quando estavam sós. E, ao lado um do outro adormecem, próximos o suficiente para não terem de discutir, e precisamente o suficientemente longe para os seus corpos não se terem de tocar.

«Ó que me metes nojo! Repulsa é o que sinto ao olhar para ti! O que te levou a esse estado? Porque achas que é tarde de mais para parar com isto? Que infelizes são aqueles que não sabem o que é o amor!»  Sons que ecoaram violentamente e acordaram os dois de um sonho demasiado longo.

Assustados, olharam-se e sem mais nem porquê, encontraram-se num longo abraço. As lágrimas foram soltas e as almas limpas, a egrégora foi desfeita. 

Não foram necessárias muitas palavras para explicar e perdoar cada acção, afinal quem deles tinha feito pior ou melhor? Concluíram apenas que se haviam junto cedo de mais, pois havia amor entre eles, o momento não era oportuno e tudo deveria voltar a ser como antes, sós. Num demorado abraço e longo beijo despediram-se, com a esperança no coração de que no dia certo ambos estivessem livres para se reencontrarem.

E cada um seguiu por caminhos diferentes, mas ambos com o objectivo de regressar a casa, reencontrar-se como indivíduo para poder ser marido/mulher, pai/mãe, avó/avô...

E nós? Temos alguma relação que seja assim? Há alguém que só desperta o nosso pior e que por muito que tentemos não o conseguimos evitar? Eu tenho, mas esta semana venci!

Na segunda hora de Mercúrio do dia de Saturno, S. Felix de Valois, S, Edmundo

Comentários

  1. Por essas e por outras é que eu não abdico do meu espaço e o "Alegria" do dele. Existe amor. Mas não temos necessariamente que viver debaixo do mesmo tecto em permanência, mas vamos partilhando os espaços de cada um quando sentimos ;)

    Inevitavelmente necessitamos, ambos, sempre de voltar ao nosso canto e aí permanecer sós durante alguns momentos (que podem ser dias). E é bem agradável assim :))

    Beijos linda :*

    PS: Não sei se alguma vez volta a haver "momento oportuno" para que duas pessoas que estão habituadas a viver assim, possam decidir juntar-se no mesmo espaço, sabendo que não voltam a ter o "seu" para se recarregarem.
    Daqui a uns anos falamos.... ehehehe... Agora é o meu sentir ;)

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  2. Fogo Shin!Este foi para o visceral!

    Como confessei a semana passada no jardim comecei realmente a desenvolver uma especie de repulsa por uma pessoa. Muito curiosamente depois de ter escrito o artigo a dizer que preferia não voltar a vê-la, nunca mais a vi. Soube que foi operada no dia seguinte)...Chiça! ( não foi nada grave)

    Acho que este tipo de sentimentos só ganham volume quando não se respeita o tempo que há em tudo.
    Há um tempo certo para dizer basta, outro para dizer " essa doeu" e outro para dizer adeus.Há também tempos para pedir desculpa e corrigir comportamentos..
    Quando certos tempos são ultrapassados acontece como os cortes que não são tratados, infectam.

    Nas relações a dois torna-se ainda mais complicado porque tens de lidar com o o medo fracasso e uma centena de questões mal resolvidas dentro de ti que inevitavelmente levas para a relação.

    A minha experiência por exemplo diz-me que as pessoas estão cansadas de investir emocionalmente porque no fim acabam por ficar sozinhas e com mais uma nota negativa no currículo amoroso. E isso pesa.Então não se está lá, vai-se estando...

    Depois há situações mais complicadas, que acredito, podem ser cármicas, e aí...cada um terá de se ouvir para encontrar a solução que pode mesmo ser uma explosão como esta que aqui descreveste, o bater no fundo para começar o cmainho ascendente...não sei

    Isto dava para uma looonga conversa.

    Beijos

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  3. Onda linda

    obrigada pela tua partilha. Creio que o importante é o respeito e a consciência que cada um tem dos seus "defeitos", a partir daí ou se luta ou se desiste.

    Cá em casa, apesar de ser pequena, temos os espaços de cada um também e mesmo se nem sempre gostamos aceitamos que um dia ou outro precisamos de estar sós, depois à noite recompensa-se o que se "perdeu" :)

    É como digo, respeito acima de tudo. Olha não sei se há ou não momento oportuno...creio que depende do que for mais importante, só isso. Mas depois falamos :)

    Beijocas grandes e obrigada pela conversa ;=)

    ResponderEliminar
  4. IdoMaria IdoMaria...

    cuidado com esses poderes mulheri rkrkrkrkr então fizeste a outra adoecer e tudo!! ;P

    Olha, é como disse à Ondinha antes, tudo depende do respeito que a relação estabelece e do que é mais importante.

    Verdade essa parte dos cortes não tratados que infectam, nas relações também é assim, por muito que julguemos estar ultrapassada esta ou aquela mágoa, sem mais nem porquê, lá vem ela outra vez e com o dobro do ressentimento. Enfim, é aprender e seguir!

    Bela partilha esta, como nos tempos antigos! Está uma excelente conversa,sim !

    Beijusss

    ResponderEliminar

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