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O Carro levou Alegria à dor

Enquanto caminhava, novamente só, Alegria pensava na Mulher, naquele encontro que tão profundamente o tocara. No entanto, outras palavras ressoavam na sua mente: as do Cavaleiro na gruta do Eremita. 

Era verdade que o Caminho encerrava muitas encruzilhadas, muitos obstáculos, mas cada vez mais Alegria compreendia que essa luta deveria ser travada com ele próprio, com as suas ambiguidades. Afinal, era ele próprio que as criava, a cada hesitação, medo ou preguiça.

O melhor que tinha a fazer era libertar esse escudo que colocara no seu coração. Dar espaço para que a Sabedoria dos Ancestrais pudesse descer em si e fazer brilhar a luz do seu diamante interior. Porém, essa tarefa, aparentemente fácil, não era nada simples. Aquelas mágoas do passado, mesmo quando limpas, deixam marcas e as experiências também, como um carro no caminho deixa imprimido o trilho percorrido até que o vento o limpe.

Seria essa a sua resposta? Esperar que um vento limpasse as marcas de mágoa no seu coração? Mas esse vento também poderia espalhá-las ao invés de as eliminar...e a dúvida instalou-se.

«É precisamente assim que o fogo começa. Uma fagulha levada pelo vento e uma floresta inteira é destruída. Mas será que o é? Não será apenas renovada?»

Alegria já nem se sobressaltava com estas aparições no seu caminho. Seguiu com o olhar a sua audição e encontrou um Cavaleiro. Desmontando, acrescentou:

«Mesmo que o vento espalhe o trilho e crie de um dois caminhos, a escolha é sempre possível. A questão é: terás coragem para seguir as tuas mágoas ou fugirás delas? Cederás perante o peso da responsabilidade ou aprenderás a seguir com o passo cada vez mais leve? O peso não é real, como o ar que respiras. Muda a forma-pensamento e tudo será mais leve. Procura fazer o teu caminho através da dor, onde mais dor houver é onde mais deves insistir, pois é aí que encontrarás a tua força e te libertarás. Mas não julgues que te falo da autoflagelação, não! Não é suposto sofreres, mas sim, ir ao encontro do que te magoa, olhá-lo nos olhos e curar.»

Alegria refletiu um pouco nas palavras do Cavaleiro. Não compreendia muito bem, uma vez mais, o que lhe era transmitido, mas a preocupação não foi muita, na sua frente há um longo caminho, com muito tempo para refletir. Todavia, uma certeza existia: mudanças, muitas mudanças provocaram aquelas palavras.

Na terceira hora de Júpiter do dia de Lua, S. Antão, S. Leonilla, S. Alberto de Sena

Comentários

  1. Shin,

    O que se resiste, persiste não é?
    Mais uma preciosa lição, onde dói é onde está a ferida a ser curada...

    Se o Alegria existisse era gaja...(ou balança)

    Bateu certo. Mais uma vez.
    Obrigado por espalhares as fagulhas :)
    beijos

    ResponderEliminar
  2. IdoMind

    a maior fã activa do Alegria ;)
    Bom, fico feliz que tenha batido certo e de facto, apesar de não ser uma lição muito fácil para mim, onde dói é onde se deve investir para curar e seguir!

    Obrigada pelos teus constantes feedbacks :)
    LOve ya

    ResponderEliminar

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