Avançar para o conteúdo principal

Day 8 "da primeira paixão"

não me recordo quando nasceu em mim esta paixão pela poesia. sei que não existiu sempre. dos primeiros anos de escola não tenho recordação de ter lido ou ouvido poesia. em casa? sim, deve ter sido em casa. as mulheres lá de casa tinha cadernos secretos onde desenhavam letras que formavam palavras. mas os desenhos eram diferentes dos textos que lia na escola. faziam rectângulos. uns deitados. outros em pé. eram formas, como podiam ser palavras. talvez fosse esse o segredo que escondiam de mim.

deve ter sido aí, em casa, nos cadernos secretos. a paixão liga bem com o secreto. deve ter sido aí. sim, creio que foi aí, nesse secretismo que nasceu esta paixão pela poesia.

na escola apresentaram-me outras mulheres com livros de palavras estanhas mas que não eram secretos. lembro-me de me apaixonar pela primeira vez por uma mulher. sim. lembro-me de Florbela bem cedo na minha vida. a romântica sofrida. a dor. a noite. a morte. a paixão. aquela que me permitia ler os seus segredos. o seu livro não era secreto. partilhávamos uma paixão. apaixonei-me. entreguei-me aos seus desvairos. as suas dores eram agora as minhas dores. as suas lágrimas na minha face. foram noites intensas que vivemos juntas. quantas vezes os seus desejos eram os meus:

«Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…»

ai! a Charneca em Flor.

depois dela vieram muitos. umas outras mulheres. alguns muitos homens. todos eles me arrebatavam a alma. deixam-me condoída. prisioneira de emoções alheias. mas faziam-me sentir viva. quando desesperada abria um dos livros, daqueles não secretos, e buscava as palavras para curarem as dores da minha alma. eles eram a minha bíblia. na mesinha-de-cabeceira, à direita lá estava ela de encadernação dura e castanha, à esquerda estavam todos eles, de capa muito mole. amontoados. em pilha. a minha Torre de Babel.

sim, creio que foi assim que nasceu em mim esta paixão. a poesia é a cura da minha alma.

Na primeira hora de Lua de um dia de Marte e de S. Rufino, S. Donatila, S. Máxima, S. Abdonio e S. Seneno

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Chockmah e Binah

No último texto de Cabala falámos sobre Kether e dissemos que para esta esfera e as suas qualidades se manifestarem teria de haver a forma e a acção. Assim é a razão pela qual estas duas esferas se manifestaram: Chockmah, a Sabedoria, foi a força que saiu da Coroa, foi o impulso da criação, o instinto divino, representa o Pai na sua capacidade criadora, o fogo, o masculino, e Binah, o Entendimento, é a forma da criação, é o campo necessário para que a criação se realize, é a Mãe, o feminino. É necessário falar destas duas esferas em conjunto, mais do que as outras, por elas serem os opostos, por elas comporem a tríade divina, o triângulo superior de onde descemos para integrar esta vida. Kether dividiu-se nas suas duas polaridades, a sua energia andrógina deu origem aos opostos e assim se criou o princípio masculino e o princípio feminino. Primeiro foi Chockmah que surgiu no seu ímpeto de criar, aqui ficaram reunidas toda a Força e Acção, esta esfera encerra em si toda a Sabedoria

Oração para benzer a casa

Lembrei-me hoje de partilhar a oração que podem utilizar durante a limpeza da casa, é a que eu utilizo e com a que melhor me tenho sentido. Esta reza foi retirada do livro Tissanas, Mezinhas e Benzeduras de Lubélia Medeiros. O livro contém uma recolha de orações e de benzeduras populares muito interessantes, para alguém como eu que não teve tempo de aprender tudo com a avó, torna-se num compêndio muito rico. Além disso, e como o título indica, contém receitas de chás e de pomadas caseiras que podemos utilizar na cura de determinadas doenças. Fica aqui então a benzedura para quando esta mos a defumar a casa com alecrim e arruda, ou com outras ervas com que nos sintamos bem: Em louvor do Santíssimo Sacramento do altar, Esta minha casa eu estou a defumar, Para que todos os espíritos maus, Inveja, praga, mau-olhado E artes diabólicas se hão-de afastar. E a paz de Jesus nos venha abençoar. (abrir a porta da rua e dizer três vezes) Em louvor de São Bento Sai o mal para fora que entre o Be

O círculo e a cruz - significado 3

O círculo e a cruz - significado 1 O círculo e a cruz - significado 2 Este glifo também foi escolhido para representar o símbolo do feminino, o que também está profundamente associado a Vénus. Vénus representa uma diferenciação do feminino lunar, que está mais associado ao arquétipo materno. Vénus representa o feminino em si, a noção de fêmea e mulher. No mapa astral de uma mulher, Vénus revelará as qualidades que a mulher se identifica para se definir como mulher, como a mulher lida e expressa sua feminilidade. No mapa de um homem, Vénus mostra como ele lida com seu lado feminino e qual é seu arquétipo de mulher, quais as qualidades que, para ele, uma mulher deverá ter. Além disso, em Vénus começa-se a manifestar a expressão de amor/sexualidade, e amor/paixão (identificação excessiva com o outro). Este processo complementa-se com o planeta a seguir, Marte, mas tem início em Vénus. Vénus revela a necessidade passivo/feminina de tornar-se desejado, atraente, sedutor. Marte com