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Burn After Reading

Depois do acontecimento de ontem decidi apressar a publicação da minha reflexão sobre o filme mais recente dos Irmãos Coen. Já andava a escrever esta partilha desde segunda, mas ainda não estava satisfeita, por isso fui adiando, mas hoje creio que está pronta para sair e o timing é perfeito.

Os Irmãos Coen têm-nos habituado a filmes repletos de fatalismo e de mensagens onde a predestinação estão sempre a ser postas em causa, onde, na maioria das vezes, as suas personagens são vítimas de acasos absurdos e que acabam por arruinar as suas vidas. Aliás, o tema central de todas as suas obras é exactamente esse, há um acaso que um homem normal tenta aproveitar, mas regra geral, esse acaso acaba por lhe arruinar a vida. Depois do enorme No Country for Old Man, onde o oportunismo de um homem vai pôr em movimento uma quantidade enorme de catástrofes, temos direito a um filme um pouco menos negro, apenas por se esconder debaixo de uma capa fina de comédia mais acessível, mas nem por isso menos profunda. Não entrarei em grandes questões cinematográficas pois os Coen não precisam de qualquer apresentação, basta dizer Fargo e todos saberão de quem falamos, dois irmãos que tecnicamente são perfeitos e que nos deram algumas das obras-primas mais primas do cinema, sendo Miller's Crossing, Barton Fink, O Brother Where Art Thou e No Country for Old Man apenas alguns exemplos.
Aquilo que me interessa e que retirei do filme foram algumas questões que julgo pertinentes e que os realizadores/argumentistas deixaram em aberto para que o público se possa questionar.
O filme começa da melhor forma possível a induz o espectador para aquilo que se vai passar, como se viéssemos do céu somos introduzidos no dia-a-dia de todas as personagens. O plano é-nos dado através da perspectiva de um satélite que se vai aproximando e entra num escritório. O momento que captamos é apenas um momento daquelas vidas, que de uma forma ou de outra se vão cruzar e ficar para sempre ligadas, um momento de vidas com histórias antigas mas que nunca são reveladas, exemplo disso é a personagem Ted que já foi padre mas que por alguma razão, nunca esclarecida, está ali naquele ginásio com aquelas pessoas específicas. A escolha de nos mostrarem apenas um acontecimento daquelas vidas deve-se, no meu entender, que os Coen prendem transmitir, à mensagem. Assim, tudo se resume à personagem Linda que se quer reinventar e que para tal precisa de dinheiro para fazer as suas operações plásticas. Esta personagem passa o filme a falar de pensamentos positivo e de atrair para si o que pretende, acreditando nisso. E de facto, ela é a única que consegue o que pretende. Mas a que custo???

Este é o assunto que quero descortinar, este foi o tema que me deixou em reflexão. Todos nós, sim todos nós, já ouvimos falar do poder da mente, e quem se debruçou mais sobre o assunto sabe que o pensamento é um acto criativo, que basta começar a pensar em algo para lhe dar forma no plano astral o que depois aliado à nossa Vontade Criadora faz com que essa forma astral adquira forma material neste Plano Manifestado. Porém, e foi nisto em particular que fiquei a pensar, teremos todos consciência do mecanismo que está por detrás desses nossos pensamentos? Saberemos até que ponto podemos influenciar os outros com os nossos desejos individuais? O universo, divido em três planos, funciona através da lei do mais fácil, da menor resistência. Isto quer dizer que o Universo accionará os seus mecanismos para nos dar o que pretendemos utilizando o caminho mais direito, aquele que é mais simples e mais rápido. Assim, costumo dar este exemplo chocante, mas nem por isso menos possível, muitas vezes quando desejamos ganhar uma grande quantidade de dinheiro, para ficarmos um pouco mais descansados neste Plano, o que pode simplesmente acontecer é falecer alguém que nos é próximo e dessa pessoa herdarmos a quantidade de dinheiro desejada, através de uma herança ou de um seguro. Por outro lado também é aconselhável não determinarmos muito pormenorizadamente o que pretendemos pois o Universo pode ter uma melhor forma de realizar o que pedimos. Então, perante estas duas situações contrárias, pergunto-me: O que deveremos fazer? Deixamos de ter desejos e de tentar criar as condições na nossa vida que desejamos? Contrariamos o conselho e programamos passo por passo os nossos desejos?

Bom, não me parece nada correcto fazer isso, além de que eu acredito mesmo que devemos ser nós a criar as nossas situações, que é através dos nossos desejos e vontades que poderemos evoluir, mas deixando uma margem de manobra para que o Divino intervenha e nos oriente.
Todavia fico sempre com esta sensação de incerteza, pois uma coisa é certa, nos meus desejos não quero prejudicar ninguém, mas não posso ser responsável pelo que o Universo faz? Ou posso? Afinal ele só concretiza o que eu pedi. Parece-me que este assunto é muito ambíguo e exige talvez mais maturidade para o encarar, mas foi com essa mesma confusão que permaneci depois de ver o filme que dá título a este post.

Vou pôr as minhas ideias em ordem, assentar o que o meu coração disser como correcto e esperar que pela vida fora a Vida me ensine outras perspectivas. Eu acredito que devo atrair para mim, de forma consciente, o que desejo. Nesse meu desejo esclareço sempre que só se pode realizar se não prejudicar algum ser vivo. Se algo acontecer que sai do meu controlo e que pode ter sido originado pela minha Vontade, peço desculpa e fico atenta para que não volte a acontecer. Porém, fica uma pergunta em aberto, não poderei utilizar esta situação para me desresponsabilizar pelo "mal" que possa causar a terceiros, mesmo se não foi intencional?

Os Coen deixam esta pergunta em aberto, quando através de um diálogo absurdo, como muitos outros escritos por eles são, que é mais ou menos isto:

O que aprendemos?
A não voltar a fazer isto.
O que fizemos afinal?
Não tenho a certeza!


Num dia de Mercúrio e de Rafael, de Santa Sira e de Santa Tais

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