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Anjos novos ... novos Anjos

Desde o ano passado que estou envolvida com o ensino do Inglês no 1.º Ciclo. Para ser completamente honesta, comecei para ver se completava o horário e para ganhar uns trocos, pois esta novidade no ensino português deixava-me um pouco de pé atrás. Porém, não há nada melhor do que experimentar para conhecer a realidade. Com tudo na vida devíamos ser assim, pois não nos basta ouvir a descrição sobre o cheiro de uma rosa, há que cheirá-la e testar com o nosso próprio olfacto.
Este ano calhou-me na rifa uma turma de 1.º ano, mais uma vez, eu não estava ainda completamente confiante nesta novidade, mas decidi aceitar o desafio. Para quem não conhece a realidade de um 1.º ano de escolaridade eu vou alargar-me na minha descrição.
Temos pela frente crianças com 5/6 anos, muitas delas, apesar de tudo o que se ouve nos media, sem terem passado por um Jardim-de-infância. Isto quer dizer, sem estarem habituados a permanecer sentados, pedir autorização para falar ou distinguir qualquer regra de sala de aula. A confusão chegava a ser tanta que não me restava outra alternativa senão os colocar de castigo. Braços cruzados em cima da mesa e cabeça em cima dos braços. Obviamente que muitos não conseguiam e eu tinha de gritar, o que me custava horrores, mas tinha de ser. Depois dos meus gritos eram os deles, desesperados a chorarem que queriam ir para casa. (risos) Foram momentos conturbados, mas lá demos a volta.
O reforço positivo é sempre uma boa solução e optei por começar a escrever no quadro o nome dos alunos que estavam a cumprir as regras. Eles ainda não sabem ler, mas aos poucos vão reconhecendo os seus nomes e ver os olhinhos dos que lá estavam era uma delícia. Claro, os outros que ainda não conseguiam comportar-se de forma adequada, demoraram a compreender que tinham mesmo de se portar bem para terem direito a ver o nome escrito no quadro, mas quando não estava...choravam, birras atrás de birras. Enfim, uma bola de neve. Não quero demonstrar a dificuldade do trabalho, não é essa a intenção, mas numa altura em que se fala tantos dos professores, pareceu-me bem mostrar às pessoas que, como em qualquer outra profissão, temos de ter competências para a desempenhar e não é qualquer um que conseguiria aguentar estes episódios. Uma coisa é brincar com crianças, outra, completamente diferente, é ensinar!
Mas a razão da minha partilha de hoje é simples. Ontem tive uma recompensa enorme por todos estes meses de luta, não só com o comportamento dos alunos, como muitas vezes dos próprios pais. É que acrescido ao 1.º ano está o facto de ser num bairro problemático de Lisboa, onde os pais entram pela escola de arma em punho para dar tiros ao professor que bateu no seu menino, acaba sempre por ser mais fogo de vista, pois depois de muita conversa acabam por compreender que afinal não foi bem como o menino contou em casa. Contudo o desrespeito e a desmoralização acaba por se ir sentindo. Acreditem, faço isto mesmo por gosto e não necessito do reconhecimento de ninguém, as coisas são como são, ou aceito ou saio.
Mas estava a dizer...Estamos em preparação para a Grande Festa de Natal. Calhou-me na rifa ensinar uma música ao bendito 1.º ano. (risos) Foi uma dor de cabeça...a dicção deles não é das melhores, a sua capacidade de concentração é reduzida, a afinação da professora é um caos...enfim, parecia um desafio insuperável.
Primeira tarefa - a escolha da música, uma simples de cantar mas intensa...depois de muita pesquisa...achei!
Oh Christmas tree, oh Christmas tree
How lovely are your branches.
Oh Christmas tree, oh Christmas tree
How lovely are your branches.
Lovely and green they always grow
Through Summer sun and Winter snow
Oh Christmas tree, oh Christmas tree
How lovely are your branches.
Segunda tarefa colocá-los a dizer as frases correctamente (difícil!) e só depois ensinar a melodia.
Depois de algumas semanas de desespero, por mais que fizéssemos nada parecia resultar, eles queriam era cantar, sem consciência de que estavam desafinados ou as palavras mal pronunciadas. Quando comecei a ser mais exigente, eles perdiam o interesse. Mais um problema...foi então que me lembrei de lhes dizer que tinha convidado um amigo especial para ir à Festa e que se eles estivessem de cara triste o meu amigo ia ficar triste. Houve logo um que perguntou quem era o amigo, para ver se valia a pena o esforço. Mas a minha resposta cativou-os a todos - o PAI NATAL. Claro, agora a teacher não pode ir à festa, porque tem de se mascarar de Pai Natal, jamais quebrar uma promessa feita a uma criança, isso pode arruinar-lhes a magia do Natal.
Então, (quando escrevo sobre a minha profissão é sempre assim, longo...sorry) como já disse, hoje recebi a recompensa por todas as dores de cabeça, rouquidão e dores de garganta, desânimo...enfim, por todos os problemas que foram surgindo. Uma aluna, depois de eu lhe pedir com ternura, porque não estava a cantar no ensaio, foi à frente da sala toda cantar sozinha a música. Sentei-me atrás de todos os alunos, fechei os olhos e, por instantes, fui ao céu e à minha volta estavam milhares de querubins a dançar envoltos de uma alegria e felicidade nunca sentidos antes. Quando abri os olhos, estes estavam inundados de lágrimas e ela deu-me um abraço do tamanho do Universo. Tudo foi esquecido!
Creio nunca ter encontrado na minha vida um abraço tão puro, tão sincero, tão inesperado, tão repleto de Amor e, acreditem, já abracei pessoas bem bonitas. Senti que ao contrário dos crescidos, pois também ela já sofreu muito, apesar de ter 6 anos, não havia recordações de mágoas no seu coração e isso foi tão bom...que me limpou o meu também.
Hoje voltei a ser lembrada que qualquer desafio, por muito impossível que pareça, pode ser sempre superado se soubermos utilizar as Armas certas, isto é, o Amor!
Que eu me lembre sempre deste dia, que o relembre nos dias em que a Força fraqueja, que ele seja como um sinete avisando-me de que o meu trabalho é para as crianças, para aquelas almas que me foram colocadas à frente, e nunca para os pais, para o Ministério, para os outros!
Estou pronta para ir a Fátima! Desde miúda que o meu pai se aborrecia comigo pois eu tinha sempre velinhas a queimar na mesinha de cabeceira. Ele aborrecia-se pois achava aquilo perigoso e perguntava-me, em tom de desafio, tens sido muito ouvida, estás sempre a pagar promessas. Nunca lhe disse que eu antes de pedir dava as velas, nunca coloquei a condição de receber e depois pagar. Assim, só depois de ter feito a minha tarefa, me sinto pronta para ir ter com a Terra. Estou limpa e não vou deixar lá mais más energias, isto é no que EU acredito, não quer dizer que é o mais correcto ou menos correcto, é como eu sou, só isso.

Num dia de Santa Luzia, Santa Odília e de Cassiel, Regente da Energia de Saturno

Comentários

  1. OLá Shin Tau

    Um extra terrestre que contactasse connosco ia achar pouco lógico que sendo a água um bem precioso e muito necessario ao nosso corpo nós a percamos por tudo e por nada.Talvez eu precisasse mas sua mensagem deixou-me aqui a chorar. Tenho uma amiga que era professora do 1º ciclo, e que esteve a trabalhar numa escola na Graça em Lisboa e adorou. No ano seguinte decidiu voltar a Lisboa, só que foi parar a uma escola do Lumiar cujos miudos eram quase todos da Musgueira e ela passou, pelo menos até lhes dar a volta, as "passas do Algarve". Portanto respeito e admiro muito esse seu trabalho. As crianças desses bairros são marcadas por condições dificeis e com pouco amor por parte da sociedade e por vezes da familia. Portanto eles sabem reconhecer quem os trata de maneira diferente
    O ensino é uma realidade estruturante que faz parte da construção do individuo e os paizinhos têm de cumprir a sua parte nessa construção e deixarem de ver a escola como um depósito de criancinhas onde eles deixam os seus filhos de manhã e vão busca-los ao fim da tarde.
    O ensino de que a Shin Tau fala devia ser a instrução dar aos meninos os conhecimentos para poderem viver em sociedade. Mas a realidade é que os professores têm de impor regras de conduta social que à partida já deviam ter sido estabelecidas e interiorizadas em casa pelos pais. Mas estamos numa sociedade sem tempo que está doente e faz-nos adoecer tambem. Isto é um ciclo vicioso em que os filhos de ontem que viveram a balda nas escolas são os pais de hoje que ameaçam os professores e dão o exemplo aos seus filhos que claro irão fazer o mesmo, porque as representações sociais são algo muito poderoso.(tenho que fazer um post acerca disto)
    Bem Shin Tau este comentario já vai muito longo, fico contente que se sinta bem apesar das dores de garganta. A minha irmã foi professora do 1º ciclo e também se queixava dessas coisas mas adorava cada minuto especialmente depois de ver os resultados e como exerceu numa terra pequena sempre se sentiu muito proxima de todos os alunos e dos pais

    Saudações

    O Viajante

    ResponderEliminar
  2. Esta semana não tenho muito tempo (última semana de aulas!), mas há sempre tempo para lhe dar uma palavrinha, rápida!

    Obrigada pela sua simpatia e pela palavras sobre Santa Iria, assim que lá cheguei lembrei-me logo de si, pois estava a reparar na quantidade de comércio que proliferou, mas não permiti que isso me incomodasse. Obrigada! Quado tiver um tempo, pois para esses textos preciso de tempo, hei-de partilhar a minha reflexão sobre esse Sábado em Fátima.

    Fico a aguardar esse seu post...com alguma curiosidade. :)

    Um abraço

    ResponderEliminar

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