Alegria tinha saído um bocado da sua reclusão, decidira que devia ir espreitar o céu de Inverno que se aproximava. Subiu até uma pequena ermida que se encontrava no topo daquele monte, apercebeu-se, então, que a caverna onde habitava estava exactamente por baixo daquele lugar sagrado.
Ao longe começou a ver a silhueta de um cavaleiro que se aproximava. Alegria ficou um pouco impaciente, mas imediatamente associou a sua saída com aquele encontro, teria de ser importante.
«Bem-vindo Cavaleiro a esta terra onde as formas mudam e os reflexos não são sempre o que parecem. Para conseguires passar por aqui dever-te-ás perguntar: O que é real numa terra de falsas aparências?»
Na mente do Cavaleiro uma mancha negra formou-se e ele recebeu uma imagem que não foi capaz de partilhar.
«Sou um Cavaleiro de um Reino perdido, mas, não sabendo bem porquê, sinto que nunca serei outra coisa senão cavaleiro. Sou o último dos meus irmão, nem a Morte me levou.»
Alegria segurou uma pedra e respondeu-lhe: «Eu seguro a cabeça do sacrifício e falo as palavras dos nossos ancestrais. Não vagueis buscando sem destino, mas aquieta-te e questiona porque e como andas. Avança com coragem e procura um teste merecedor da tua força. Vem, descansa comigo. Tenho uma fogueira acesa e um caldo quente. Descansa antes de seguires a tua viagem.»
Alegria acolheu o Cavaleiro na sua caverna, ofereceu-lhe comida, calor e um lugar para dormir. Não era luxuoso, mas era acolhedor. Porém, o Cavaleiro começou a agir com alguma arrogância e Alegria não gostava do que via e tinha de ouvir.
«A energia segue o pensamento. Porque te aprisionaste aqui? Não deixes que o orgulho ou o medo do que os outros pensam te mantenha aqui. É um lugar frio, inóspito para alguém viver. Há quanto tempo te auto-flagelas aqui?»
Alegria hesitou. Não queria ser mal-educado, mas aquele à-vontade excessivo deixava-o pouco confortável. Analisou-o e deixou que este continuasse a falar, dando-lhe assim oportunidade de melhor buscar as suas palavras. E eis que se lembrou:
«Disse-te há pouco para não andares a divagar e te aquietares buscando, sim, no teu interior, os como e porquê. É o que faço aqui.»
«Viver longe dos outros, daqueles que te põe à prova é fácil. Estás escondido de tudo e de todos, aqui só te tens a ti e aos teus pensamentos. Mas como a energia segue o pensamento, só vives o que crias. Deverias é viver no meio do Mundo e não fora dele.»
Alegria ficou irritado. Aquele cavaleiro estava a tirá-lo do sério. Quem se julgava ele?!?
Deitaram-se e a conversa ficou a pairar no ar. Aquelas palavras inesperadas deixaram-nos em estado de meditação.
Adormeceram assim que fecharam os olhos, a pedra era dura, mas emanavam um calor agradável.
O Mundo começou a escurecer, os barulhos de quem andava em dança no topo do monte pararam, as vozes silenciaram-se. Alegria sonhou.
Estava no meio de um ritual na comunidade de Isis. Estavam todos alegres, dançavam e comiam, falavam os homens alto das suas conquistas mesmo neste tempo frio e as mulheres das suas aprendizagens nos templos.
Uma das sacerdotisas aproximou-se e tocando-lhe nos cabelos revelou:
«Arranja o que está partido.Defende as tuas fronteiras. Lê os sinais do tempo. Recolhe as tuas forças para a tarefa. Não temas o mal de amanhã, mas segue o caminho um dia de cada vez.»
As suas palavras lembraram-lhe as do Cavaleiro e o seu questionamento. Porque não o calará? Estaria ele a duvidar se se devia manter ali? Oh, como estava a ser imprudente. Era óbvio que as palavras o tinham afectado pois estava na hora de seguir em frente. O isolamento estava terminado. Era momento de reencontrar uma comunidade e fazer o que mais prazer lhe dava - aprender em Amor com todos.
«Na vida há muitas batalhas, muitos obstáculos para serem transpostos. Combate comigo e verás que a jornada à tua frente se torna mais fácil. Mostrar-te-ei os teus verdadeiros motivos.»
Estes foram os últimos pensamentos de Alegria, antes de acordar. Quando abriu os olhos deu com uma imagem pouco acolhedora. O Cavaleiro tinha a espada em riste preparado para o combater. Alegria compreendeu que a batalha que teria de travar era consigo próprio e, por isso, tocou na espada e disse:
«Podes ficar tu aqui. Chegou a minha hora de partir. Não lutarei por algo que não faz sentido. Tu precisas mais disto que eu.»
E assim partiu.Levando apenas consigo os utensílios para os ritos.
Na segunda hora de Sol do dia de Marte, S. Ursano, Santos Inocentes
É sensacional o texto e o ensinamento que ele contém. Me perdoe, mas foi vc mesmo que o escreveu? É de um estilo único e refinado e é realmente muito bonito. Se foi vc, parabéns, se não foi, gostaria muito de saber de quem é.
ResponderEliminarBem, seu blog é maravilhoso e me senti como se chegasse em casa. Não sei bem explicar a sensação, mas foi exatamente isso que senti.
Ficaria imensamente feliz se vc fosse conhecer meu blog e esperarei com certa ansiedade.
Tudo que vi e senti aqui me encantou.
Desejo-te um 2011 repleto de alegrias e realizações que a façam muito feliz.
Beijokas.
Seguindo inevitavelmente... rs
Olá Lua Nova
ResponderEliminarantes de mais sê bem-vinda e muito obrigada por te teres manifestado.
Sim, fui eu que escrevi o texto, senão tivesse sido estaria feita a referência bibliográfica. Fiquei muito feliz com o que ele te provocou, é bom saber isso.
Irei, sim, visitar o teu espaço. E será assim que acaba de escrever estas linhas.
Um abraço e volta sempre que quiseres.
Deusa
ResponderEliminarSempre venho aqui beber a tua sabedoria que para mim é tão diferente e ao mesmo tempo tão conhecida nos refolhos da alma...
Posso pedir um favor? Vc pode colocar o texto com letras pretas ao invés de cinzas?
Agradeço!!
beijo grande
Paula, lamento mas não posso pôr as letras em preto senão as da coluna do lado não se vêem :(
ResponderEliminarObrigada pela presença
Shin, minha Shin
ResponderEliminarO Alegria duvida. O Alegria teme. O Alegria ilude-se. O Alegria repousa. Mas o Alegria volta sempre. E mais sábio. Mais forte.
Desde que começaste com a história dele há sincronia com a minha. Como bem sabes. É assustador.
Desta vez não é diferente. Talvez seja tempo de sair da caverna e ir aprender com o Amor de todos. Tão lindo...
Um beijo irmã do meu coração e bom ano
Só agora reparei que não te tinha respondido ... sorry!
ResponderEliminarOLha, agradece aos céus que te dão esta oportunidade pois, como sabes, não escrevo dirigida para ninguém, se te identificas é porque eles querem que assim seja LOL
BEijcoas minha irmã