Hoje vou-vos contar uma história...permitam-me, pois é sobre os meus Antepassados, tomei a liberdade de preencher com a minha imaginação algumas partes que estavam em branco, mas a essência, essa permanece a verdadeira.
Reza a lenda que numa noite fria e escura, onde nem a luz enigmática da Deusa bastava para indicar o caminho, os meus avós saíram da sua aldeia a trote num burro para levar a minha mãe ao médico na cidade mais próxima. Por caminhos sinuosos, encruzilhadas e veredas, o meu avô ia sempre olhando para trás, revelando uma desconfiança fora do comum. A minha avó, mulher vigorosa e anciã como sempre foi, aconselha-o a não o fazer, pois era uma noite perigosa e pelo adiantado da hora andavam à solta todo o tipo de seres fantásticos.
O homem, ainda desconfiado, foi tentando resistir à tentação, mas o seu medo foi maior e olhou para trás depois de passar uma encruzilhada. Diz-se que aquilo que viu foi tão tenebroso que nem conseguia pronunciar uma palavra para o descrever, percorrendo o restante caminho a tremer de medo. Nessa noite acabaram por permanecer na cidade, por ser muito tarde, mas acredito que fosse apenas pelo medo. Contaram-me os meus pais que cada vez que ele tentava falar sobre essa noite, depois de muita insistência dos filhos, entrava num mundo de delírio tão grande que ninguém queria acreditar. Até que houve um dia em que ele se confessou...
Diz ter visto um ser de três cabeças, numa apenas havia uma boca, noutra os olhos e na outra os ouvidos. A cabeça com a boca disse-lhe:
- Se algum dia falares sobre o que viste, ir-te-emos buscar.
A cabeça dos olhos registaram todos os seus traços e os ouvidos, ouviram a sua respiração e o bater do seu coração, capturando a sua essência. A partir daquele dia, Bernardo estava condenado a viver em medo...
Dizia a minha avó que ele nunca mais fora o mesmo desde essa noite, entrando em mundos obscuros de visões e alucinações. Ainda hoje o meu pai diz que era espantoso, passava o dia inteiro com ele no trabalho e era uma pessoa normal, mas quando se aproximavam de casa e mal o meu avô via a minha avó, lembrando-se daquele episódio, refugiava-se numa loucura bizarra.
Tudo o que me resta do meu avô Bernardo são este tipo de histórias mirabolantes, que tentavam justificar uma esquizofrenia que mais tarde se veio a revelar em outros homens da sua família. Esquizofrenia ou não, sei que elas contribuíram para um portefólio alucinante de histórias do nosso folclore, fazendo parte daquilo que sou hoje, uma mulher que acredita em todas essas histórias. Compreendendo que muitas delas poderão ser justificadas por um simples argumento racional, mas prefiro acreditar na magia por detrás de todas elas.
Reza a lenda que numa noite fria e escura, onde nem a luz enigmática da Deusa bastava para indicar o caminho, os meus avós saíram da sua aldeia a trote num burro para levar a minha mãe ao médico na cidade mais próxima. Por caminhos sinuosos, encruzilhadas e veredas, o meu avô ia sempre olhando para trás, revelando uma desconfiança fora do comum. A minha avó, mulher vigorosa e anciã como sempre foi, aconselha-o a não o fazer, pois era uma noite perigosa e pelo adiantado da hora andavam à solta todo o tipo de seres fantásticos.
O homem, ainda desconfiado, foi tentando resistir à tentação, mas o seu medo foi maior e olhou para trás depois de passar uma encruzilhada. Diz-se que aquilo que viu foi tão tenebroso que nem conseguia pronunciar uma palavra para o descrever, percorrendo o restante caminho a tremer de medo. Nessa noite acabaram por permanecer na cidade, por ser muito tarde, mas acredito que fosse apenas pelo medo. Contaram-me os meus pais que cada vez que ele tentava falar sobre essa noite, depois de muita insistência dos filhos, entrava num mundo de delírio tão grande que ninguém queria acreditar. Até que houve um dia em que ele se confessou...
Diz ter visto um ser de três cabeças, numa apenas havia uma boca, noutra os olhos e na outra os ouvidos. A cabeça com a boca disse-lhe:
- Se algum dia falares sobre o que viste, ir-te-emos buscar.
A cabeça dos olhos registaram todos os seus traços e os ouvidos, ouviram a sua respiração e o bater do seu coração, capturando a sua essência. A partir daquele dia, Bernardo estava condenado a viver em medo...
Dizia a minha avó que ele nunca mais fora o mesmo desde essa noite, entrando em mundos obscuros de visões e alucinações. Ainda hoje o meu pai diz que era espantoso, passava o dia inteiro com ele no trabalho e era uma pessoa normal, mas quando se aproximavam de casa e mal o meu avô via a minha avó, lembrando-se daquele episódio, refugiava-se numa loucura bizarra.
Tudo o que me resta do meu avô Bernardo são este tipo de histórias mirabolantes, que tentavam justificar uma esquizofrenia que mais tarde se veio a revelar em outros homens da sua família. Esquizofrenia ou não, sei que elas contribuíram para um portefólio alucinante de histórias do nosso folclore, fazendo parte daquilo que sou hoje, uma mulher que acredita em todas essas histórias. Compreendendo que muitas delas poderão ser justificadas por um simples argumento racional, mas prefiro acreditar na magia por detrás de todas elas.
E vós? Não acredito que nenhum de vós não tenha ouvido uma destas histórias dos seus avós ou de outras pessoas mais velhas da família?
A minha história de infância está repleta delas e muitas noites de Verão foram preenchidas assim, no quintal debaixo da luz da lua a ouvir o meu tio mais velho a contar essas lendas e mitos de monstros, lobisomens, bruxas e seres malignos. Reza a lenda que a minha avó era a sétima filha...será que permaneceu na família?
Num dia de Santo Amaro, São Paulo Eremita, São Romeo e de Saquiel, Regente da Energia de Júpiter
A minha história de infância está repleta delas e muitas noites de Verão foram preenchidas assim, no quintal debaixo da luz da lua a ouvir o meu tio mais velho a contar essas lendas e mitos de monstros, lobisomens, bruxas e seres malignos. Reza a lenda que a minha avó era a sétima filha...será que permaneceu na família?
Num dia de Santo Amaro, São Paulo Eremita, São Romeo e de Saquiel, Regente da Energia de Júpiter
Olá Shin Tau
ResponderEliminarPois histórias dessas, não tão marcantes, aconteceram um pouco com diversos membros da minha familia, inclusivé com a minha mãe que é de facto uma mulher destemida e quando tem alguma duvida investiga. Portanto se ela não sabia explicar eu acredito que devia ser algo de anormal.
Tal como a iluminação das cidades impede de ver as estrelas no céu, talvez tambem a noite tenha perdido os seus mistérios
Um abraço
Saudações
O Viajante
Olá Shin Tau
ResponderEliminarTudo bem em relação aos comentários, fiquei preocupado que fossem outras as razões que a levaram a moderar os comentários.
Claro que a Isis tem os seus mistérios
Beijinho
Saudações
O Viajante
Olá meu querido e lindo Viajante,
ResponderEliminartodas as mudanças que ocorrem neste espaço têm uma razão, neste caso, esta teve até três, uma pessoal e duas em relação aos outros.
Não meu querido, comigo tudo é claro e transparente, não há outras razões a não ser aquelas que lhe disse.
Os mistérios da Ísis são para ser desvendados, em caso de dúvidas nada melhor do que perguntar. A falar é que nos entendemos e sinta-se sempre à vontade para perguntar seja o que for, já quase não há segredos entre nós (risos), quer dizer...hum...não sei...talvez ainda haja muitos (risos).
Obrigada pela sua presença maravilhosa e fico à espera que um dia nos conte uma destas histórias misteriosas que ouviu da sua mãe, fiquei curiosa, um dos meus defeitos...
Beijinhos
Que grande história, adorei...
ResponderEliminarCoitado do teu avô!
Por acaso, lembrei-me agora de uma que me contou o meu pai.
Quando ele era criança, havia uma tia dele que estava muito doente. Era uma tia velha, e quando já estava a morrer, mandaram chamar as pessoas da família para se despedirem.
A minha avó paterna estava longe e foi um esforço muito grande para conseguir chegar a tempo.
Ele contou que quando lá chegou com a mãe (a minha avó paterna), a cara da tia dele transformou-se na cara de outra pessoa (acho que era a avó dele, portanto, mãe da tia e da minha avó paterma), e disse "Ainda bem que chegaste, filha. Pronto, agora já posso ir."
E a cara voltou a transformar-se na cara da tia, e ela morreu.
Penso que a mãe da minha avó paterna não se tivesse despedido dela antes de morrer.
E o meu pai diz que assistiu a isso tudo quando era miúdo.
Ainda hoje não sei... desafia a lógica, a ciência... mas ele nunca foi pessoa mentirosa.
E que há coisas inexplicáveis.... oh isso há...!
Obrigada pela leitura do 4 de Bastões. Adorei!!
ResponderEliminarMuito bonito sim senhora, a revelar world wide web as reliquias narrativas da família.
ResponderEliminarAnos de terapia deitados ao lixo depois de ler o teu post..lol
Grande infância...diria até abençoada infância.Livre, cheia de amor, de partilha e sobetudo construtiva porque os adultos nos incluiam as todas as conversas, em todas as discussões.Não havia cá tabus ou segredos porque "não é para idade deles".Crescemos com uma compreensão muito concreta da vida e mágica, claro.Não havia história que não acabasse em assombração...Cedo fomos iniciadas na Linguagem Universal e quero agradecer à extraordinária Bernardete pelo legado maravilhoso que nos deixou.Nunca lhe disse, mas admirei sempre aquela coragem ferrea que nos desesperou tantas vezes quantas a confundimos por pura teimosia.Minha querida avó.
Não tinhamos mesmo como escapar a isto do sobrenatural, pois não?
beijos love you