Finalmente tenho alguma disponibilidade mental, não muita, pois ando muito ocupada mentalmente, para escrever algo sobre o misterioso espectáculo Folia! Tu és isso.
O espectáculo teve lugar nos misteriosos e iniciáticos jardins da Quinta da Regaleira, numa noite de lua cheia, com pessoas muito interessantes.
Às 8 e pouco da noite, depois do Sol se pôr e a lua estar alta, começou a viagem. Esta teve três momentos, actos, distintos. Primeiro somos abordados pela mãe e por Sebastião, o Oculto, que nos acolhem cheios de mistérios mas com muita força e vontade. Nesse momento, em frente ao Palácio, é nos pedido que façamos o primeiro exercício de desapego ao imaginar e sentir todo o Amor que temos por aqueles que amamos, para depois libertar esse sentimento por todo o Mundo, levando a nossa Luz ao lugares onde há obscuridade.
Presos ora somos
Livre seremos
Das amarras do sono
Enfim despertaremos!
Depois deste exercício é-nos oferecido uma vela e começa a peregrinação até à Capela. Aí é invocada a força da Liberdade e é-nos pedido que olhemos ao espelho e vejamos todos os nossos podres, para deles nos libertarmos. Continuando o caminho somos confrontados com os terríveis sete pecados capitais e num percurso, que se quer feito em silêncio meditativo, encontramos as sete estações com representações muito sui generis dos 7 pecados. E chegamos à Fonte d'Abundância. Neste local tão mágico colocamos a vela no altar e mais uma vez somos convidados a nos enfrentarmos com todas as palavra que apodrecem o nosso Mundo, mostrando-nos que todos nós, mesmo aqueles que se julgam mais puros, têm momentos em que nos deixamos apodrecer e apodrecemos o Mundo.
Das entranhas da terra saem os diabos e levam-nos de volta para a nossa prisão. É momento de limpar o ego de todos os medos, de nos preparamos para mergulhar na Terra húmida e escura da Grande Mãe, onde a purificação será realizada.
Um diabo em deus tornar
Todo o mal em bem volver
Morte na boca beijar
Vida outra renascer.
E pelas grutas escuras terminamos o primeiro acto, o momento da consciencialização do que somos, do que fomos e do que queremos ser.
A saída é pela luz e no Portal dos Guardiães começamos o segundo acto, onde somos iniciados, baptizados, ungidos e renomeados.
É feita a coroação ao Imperador e Imperatriz do Quinto Império, apenas se formos capazes de unir em nós essas duas polaridades, apenas se formos capazes de assumir que somos os olhos do Mundo e a canção que a manhã traz. Apenas se nos conseguirmos libertar de nós próprios, de todas as ideias que temos daquilo que somos. Apenas se conseguirmos ter um coração livre e inocente, como o da criança que no Pentecostes é coroada.
Depois do casamento místico tem lugar o bodo, no Terraço dos Mundos Celestes onde a barca da Ilha dos Amores espera ansiosamente para percorrer caminhos nunca antes navegados. E dá-se início ao terceiro e último acto, a festa, a Folia que ficará para sempre em nós.
O pão e o vinho consagrados dão início à loucura, onde os actores extasiados nos levam por caminhos sinuosos e cheios de malícia, as que apenas os ouvidos de uma criança e o seu coração poderão aceitar sem rigor.
Neste momento, o Imperador e a Imperatriz dão-nos conselhos sobre o caminho do meio, aquele que se pretende fazer através da alquimia de tornar a Tolerância e o Rigor um só.
Que palhaços do circo do Senhor,
Sejamos loucos do mais belo siso
Transformando em jogo a nossa dor
E a dádiva das lágrimas em riso.
O Filósofo e o Louco ensinam-nos o caminho, que só pode ser feito caminhando, quem nunca tiver errado que atire então a primeira pedra!
Como não poderia deixar de ser, a festa termina em dança louca medieval, onde todo o público participa e comunga da união que se criou.
Esta noite ficará para sempre gravada na minha alma como uma noite iniciática, onde o meu nome mágico mudou!
Num dia de Marte e de Samael, de São Cornélio e de São Cipriano
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