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Análise da História de Psique II

Bom, depois de termos colocado de lado algumas questões que não interessavam para esta análise, vamos lá ao que interessa. Quando partilhei a história de Eros e Psique disse-vos que eu via Psique como sendo a Alma em busca do seu corpo da sua experiência física, Eros.
Hoje vou explanar essa ideia e esperarei pelos vossos comentários depois. Mas mesmo antes disso tenho de confessar que nunca demorei tanto tempo para criar algo, isto para mim foi um recorde, normalmente a minha parte Carneiro e Sagitário desejam ver o resultado logo, mas com este texto, fui obrigada a fazê-lo aos poucos, só por isso já valeu a pena.

Psique vivia num estado de Graça em casa dos seus pais, a sua Beleza era algo valorizado por todos, ela era um ser quase perfeito. Contudo, chegou um momento em que ela própria se começou a sentir mal e desejou casar-se, mudar de estado, passar por um ritual. Quando a Alma se encontra no seu estado Livre, de perfeição, ela está em casa do Pai, num lugar que ninguém sabe onde é. Mas aos poucos começa a desejar elevar-se mais, ser melhor, mudar o seu estado. Para tal, ela tem de descer à Terra e experienciar um corpo físico para poder mudar a sua forma.
Nesta descida esquecemo-nos do caminho de regresso e para tal precisamos de passar algumas provas ou de forma consciente (realizando uma iniciação) ou de forma inconsciente (aproveitando o que nos vem ter ao caminho).

A primeira prova que Psique teve de passar foi confiar cegamente no seu marido, assim como a Alma tem de confiar cegamente no seu Corpo. Quando um dos dois manda mais, acontece um desequilíbrio em nós, manifestado sobre a forma de doença. A Alma e o Corpo têm de estar em harmonia total! ( A partir de aqui Eros será mencionado como Corpo)
As Irmãs de Psique fizeram o papel de semear a dúvida, fazê-la duvidar da perfeição do seu Corpo, dizendo-lhe que ele era um monstro. Psique deixa-se levar e o Corpo zanga-se e fica magoado, surge a doença.
Psique só te um remédio, procurar a todo o custo reencontrar a Harmonia para poder voltar a ter o seu Corpo e constituir um Ser Único, Perfeito.

Afrodite, a Mãe, vai fazê-la passar pelas mais duras provas, mas estas serão as provas necessárias para Psique mostrar a sua purificação do “pecado” que cometeu.
A primeira prova, separar as sementes, coloca Psique numa posição de inferioridade, ela tem de descer ao solo e de bruços separar as sementes. Primeira lição, aprender a lidar com o elemento Terra, aprender a ser Humilde e aceitar as ajudas dos seres inferiores, representados pelas formigas. Quando a Alma tem consciência da sua importância, tem tendência para se esquecer que a Vida é para ser vivida na Terra, que todas as coisas, por mais pequenas que sejam têm a sua importância.
O grande adversário nesta prova, e que fez Psique pensar em desistir, era o tempo que ela tinha para a realizar. O tempo é algo que nós, enquanto conquistadores incessantes do caminho de regresso, temos tendência para considerar um inimigo e, ainda por cima, para a Alma este conceito é completamente desconhecido, pois ele é apenas terreno. Esta tarefa ensina-nos que com as devidas ajudas (todos as temos) nada é impossível, que o até o tempo é algo que se pode manipular, que precisamos de o tornar nosso amigo, conhecê-lo e domá-lo, que o importante é aceitar os recursos que temos e usá-los para atingir os nossos objectivos.
A segunda tarefa, buscar os fios de ouro dos Carneiros, revela-nos o segundo elemento, o Fogo, e a segunda qualidade da Alma a desenvolver, a Paciência.
Para Psique conseguir encontrar o Fogo sujeitava-se a sofrer ou até mesmo a morrer e é aqui que vem a segunda ajuda, a cana à beira rio. Siringe, amante de Pã, disfarçada de cana mostra a Psique que para chegar ao Fogo precisamos de passar pela Água e esperar pacientemente que nenhum dos dois se anule. Para conseguir este casamento alquímico é preciso saber esperar e observar os indícios à nossa volta, haverá sempre pistas de como o conseguir.
Esta tarefa encerra ainda um outro ensinamento precioso. O Carneiro é um símbolo de acção, de luta, de iniciativa e quando ele revela um perigo para a Alma, eu imagino que só nos poderá querer dizer que nem tudo é uma luta, que não devemos enfrentar os nossos combates e guerras de forma impulsiva. As melhores guerras ganham-se através da estratégia, ouvindo o som das canas que rodeiam o nosso rio interior, às vezes a melhor acção é a não-acção.

Ir buscar água ao Estige é a terceira tarefa que Psique terá de realizar para recuperar o seu estado, finalmente a Água, depois de ter cultivado a humildade e a paciência.
Esta tarefa é simples de interpretar pois ela representa o baptismo, a iniciação. O Estige era o rio onde se alcançava a imortalidade, onde Tétis mergulhou Aquiles para o tornar imortal, deixando apenas o seu famoso calcanhar de fora. Ao ir buscar esta água, Afrodite está a enviar Psique para o caminho da sua imortalidade, o baptismo, além disso Dionísio conta-nos que as promessas feitas no Estige jamais poderão ser quebradas.

A ajuda que Psique recebe da Águia de Zeus mostra-nos que para uma iniciação teremos de estar direccionados para o Divino, para o Alto, para as Grandes Ideias, para a expansão da consciência, que só assim poderemos ser ajudados a voltar à casa do Pai. Que o nosso inimigo será o Dragão não domado, o Fogo destruidor, que a nossa intuição não pode sempre ser seguida que o melhor é sempre pedir a inspiração divina.
A última tarefa, trazer alguma da beleza de Perséfone, coloca Psique perante o maior dilema da Alma, seguir as direcções dadas pela inspiração divina cegamente. A torre, que lhe dá as instruções representa a nossa forma de conversar com o Divino, ela é a nossa fortaleza mas também a nossa escada de Jacob. Ao seguir piamente o que ela lhe disse, Psique veria a sua tarefa concluída com sucesso, mas quase no fim do Caminho, a insegurança no seu merecimento de algo tão bom como o Corpo prevalece e deita tudo a perder. Mas será que deitou mesmo? Esta forma estranha de terminar uma história/ensinamento não pode ter sido deixada ao acaso e a grande lição reside na interpretação desta atitude.

Quem confia piamente na sua intuição, na sua forma de conversar com o Divino, que nunca duvida do que lhe é pedido, quem apenas segue o caminho que lhe traçaram, não está a fazer uso do seu livre arbítrio. Duvidar, questionar e, no caso de Psique, ser insegura, revela que estamos prontos para viver a experiência humana. A Alma só pode experienciar isso neste Plano e, por isso, estes sentimentos não podem ser relegados para o fundo do poço, eles fazem parte do Caminho, fazem parte do Corpo, foi assim que Psique o mereceu de volta, curado e ainda mais apaixonado.

Espero que este texto/desabafo/experiência tenha sido positiva para vós. Lamento que mesmo com tantos cortes, demoras e dúvidas, ele tenha permanecido tão longo. Mas precisava de explanar as ideias para vos trazer aqui.
Um caminho espiritual só pode ser realizado quando respeitarmos e dermos a devida importância ao corpo. A Alma não é mais importante que o Corpo nem o Corpo que a Alma, eles precisam coexistir de forma perfeita, harmoniosa, equilibrada. Só assim dominaremos o Ar!

Num dia de São Olegário, São Marciano, Santa Coleta, Sana Perpétua, Santa Rosa de Viterbo e de Anael, Regente da Energia de Vénus

Comentários

  1. Olá Shin Tau

    Excepcional!! é o termo que eu encontro para avaliar a forma clara analisou este episódio da mitologia grega.
    Equilibrio e harmonia do principio ao fim, que de facto deverão ser as palavras chave de todos os iniciados no Caminho da Iluminação.
    Concordo com tudo o que disse, descreveu de forma rigorosa a razão da nossa vinda a este plano.
    Se analisarmos todos os grandes seres que encarnaram para elevarem o nivel vibratório do planeta passaram por situações semelhantes às que Psique passou, tal como nós smples mortais passamos ainda hoje e haveremos de passar no futuro até atingirmos a Iluminação.

    Saudações

    O Viajante

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  2. Acho que acertaste com todos os pontos nos iiis. Hoje não sou capaz de te dar uma alternativa ao que disseste, a análise foi fantástica. Bjs *****

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