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Teorias e Filosofias


A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e, como é o espírito que viaja, é nele que se vive. Há, por isso, almas contemplativas que têm vivido mais intensa, mais extensa, mais tumultuariamente do que outras que têm vivido externas. O resultado é tudo. O que se sentiu foi o que se viveu. Recolhe-se tão cansado de um sonho como de um trabalho visível. Nunca se viveu tanto como quando se pensou muito.


Bernardo Soares, in Livro do Desassossego

Esta reflexão do heterónimo de Fernando Pessoa fez-me sentir vontade de falar um pouco sobre as teorias, filosofias e princípios que regem a minha vida.
Desde muito cedo que senti que este mundo em que vivemos não poderia ser a totalidade, que era quase obrigatório que houvesse algo mais para além deste corpo físico. Sempre senti que dentro de mim havia uma essência que nada tinha a ver com apenas matéria.
Lembro-me que desde miúda os meus pais me achavam estranha, pois a minha forma de encarar a vida era completamente diferente das suas e à medida que fui crescente fui ficando cada vez mais estranha, mas nunca me impediram de ser quem sou e por isso estou-lhes eternamente grata.
A minha mãe é uma pessoa cheia de fé, mas nunca foi muito praticante, acredita em Deus, como uma força que está exterior e que sempre a pode ajudar. O meu pai, por sua vez, é um homem muito católico, com todos os dogmas bem aceites e inquestionáveis, apesar de não ser praticante. Desta junção nasci eu, uma pessoa que, como a minha mãe, tem uma grande fé numa entidade Criadora do Universo, mas que não sinto necessidade de lhe chamar Deus. Aquilo que diverge da minha mãe é que essa entidade para mim não está fora, mas dentro, essa entidade é aquilo que sempre senti desde criança que crescia dentro de mim, uma força e uma crença fora do normal. Do meu pai retirei a parte do rigor, do prestar homenagem e do sentir necessidade de me manter em contacto com essa parte divina.
Depois de compreender o que cada um me transmitiu, era a altura de criar o meu próprio diálogo com essa parte religiosa, religiosa no sentido de religar. Assim, surgiu uma pessoa que vive a vida da forma como a sente, interiormente, que deseja ardentemente conhecer a sua parte divina, pois eu sempre disse que sou um Ser Espiritual a viver uma experiência física.
O que quer isto dizer? Acredito, e por isso pode sempre ser questionado pois baseia-se em sentir e não em pensar, que Eu sou uma Energia que não é deste mundo, que todos somos Seres Espirituais que noutro espaço decidimos que precisávamos ainda de evoluir, de melhorar as nossas qualidades, e que por sermos essencialmente energia necessitávamos de "descer" a um mundo completamente físico onde pudéssemos ser colocados à prova e fazer as nossas aprendizagens. Ou seja, este Plano onde nos encontramos é como se fosse uma escola onde cada um está a tentar passar o ano, até atingir o grau que melhor lhe convir.
Por ter esta visão sobre o funcionamento do mundo, cedo me foi parar às mãos a Cabala, essa Escola que tão bem ensina sobre o Caminho que o Ser Divino deve percorrer para poder regressar de volta à Casa do Pai. Na Cabala encontrei a justificação para muitas das coisas que sentia e que não sabia bem de onde vinham, mas também não podia acreditar que era apenas eu a pensar dessa maneira. Depois, e aqui pode parecer que há contradições, acredito que apesar de termos traçado algum plano para esta vida, poderemos sempre fazer outras escolhas. Como por exemplo, quando saiu de manhã para ir para o trabalho, sei que há vários percursos que me podem levar até ao meu destino, independentemente daquele que eu escolher, vou parar o carro à frente do trabalho. Assim é também no caminho que defini. Se eu souber o que quero fazer, poderei sempre escolher a via que mais se adequa, a mais longa, a mais curta, a mais bonita, a mais deserta...enfim, as hipóteses são inúmeras, aquilo que podemos e temos de fazer são escolhas. Estas escolhas têm de ser conscientes, eu não posso deixar-me guiar seja pelo que for e conduzir a minha vida toda assim, pois no final do caminho somos sempre nós os responsáveis pelo que acontecer. Se no fim sou eu que vou prestar contas sobre o passar ou não de ano, então tenho de reger a minha vida de acordo com a minha consciência.
Ao longo do caminho, vamos tendo despertares e alguns sinais que nos podem colocar no caminho que decidimos.
As coincidências, esse tema tão batido, são para mim os sinais que o meu subconsciente envia para o exterior para me alertar sobre as escolhas que tenho de fazer. Quando me deparo com uma situação que considero uma coincidência, ou melhor sincronia, fico alerta para ver o que está a escapar à minha compreensão e o que devo aprender com isso. A sincronia, no meu ponto de vista, acontece quando não estamos muito centrados, sintonizados com o nosso Eu Interior, pois se isso acontece é porque não sei o que ando a fazer. Claro, que em tudo há excepções, mas sinceramente se eu souber o que quero e para onde quero ir, estou em contacto com o meu subconsciente e este não tem necessidade de me enviar recado por outro. Ora a jeito de comparação seria a mesma coisa que estar com uma pessoa todos os dias e depois saber notícias sobre ela através de outros, algo não estaria bem, certo?
Assim, no início do percurso temos imensos sinais exteriores mas depois a sua regularidade vai diminuindo, pois quanto mais em contacto estou menos necessidade tenho de ser alertada. Claro, temos aquelas confirmações, isto é, às vezes as ditas sincronias podem servir apenas para confirmar que estamos a fazer o correcto.
Há ainda uma quantidade de outras teorias, mas o texto já vai longo e falarei sobre isso numa segunda parte.

Num dia de Marte, do Arcanjo Samael e de São Agostinho da Cantuária

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