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A Arte na transmissão de conhecimento

Ora para hoje reservo-me uma pequena delícia, ir aos meus arquivos e falar daquilo que conheço, as coisas que me foram transmitidas através de mensagens subliminares na infância e que ainda hoje fazem muito sentido.
O cinema, a música, a literatura, a banda-desenhada, a pintura, são artes que aprecio verdadeiramente, todavia, essas artes para mim têm de ser subversivas, têm de pertencer a uma sub-cultura com a qual me identifico.
Assim, no cinema encontro como corrente preferida o filme de género (principalmente o de terror), aquele que normalmente toda a gente foge por achar vão e inútil. Na música prefiro a independente, onde sei que o que motiva é a Arte pela Arte e não a questão financeira. Na literatura gosto de ficção científica e muitos outros temas, mas sou exigente com a aprendizagem. Porém, o que todas estas artes tão diferentes à partida têm de ter em comum é que falem sobre a Vida, que me ensinem algo de valioso que eu não possa experimentar de outra forma.
O cinema é o mais imediato, aquele que utiliza quase todos os meus sentidos, que me coloca dentro da experiência sem grandes dificuldades. Neste aspecto, fica justificado a minha preferência pelo cinema de terror, pois este é um ponto valioso para se aprender sobre o ser humano, quer seja pela análise dos medos, quer seja pelos fantasmas que assombram as pessoas, são sempre (quando é um filme de qualidade) pontos de partida para analisar esse bicho que é o ser humano e em última instancia os meus próprios medos.
Através da literatura posso viver outras realidades, mas aqui começa o percurso a ficar mais pessoal, já é a minha visão do que o autor descreve e não tão imediato como no cinema (imagem em movimento). Na literatura gosto de algo que me envolva, algo que me bata forte e por isso, algumas vezes acontece que começo um livro e não o consigo acabar, esperando na prateleira que o dia certo apareça.
Com a música afunilamos ainda mais a experiência e colocamo-nos no campo completo do interior, daí que as minhas preferências recaiam na música intimista e minimalista. A música é daquelas coisas tão pessoais que nem dá para explicar, os sons ecoam dentro e libertam sensações e emoções que desconhecíamos existir dentro de nós. É uma Arte fabulosa.
Mas bom, tudo isto para falar sobre a banda desenhada. Esta arte, tão mal vista pela generalidade das pessoas, alguns considerando-a como coisas para crianças e outros como coisas para adultos que não crescem, enfim, cada um sabe de si!
Para mim a banda-desenhada, os famosos comicbooks são uns utensílios magníficos de aprendizagem, como as artes anteriores mencionadas, aliás, basta ver que é comum a 7ª Arte recorrer a esta para fazer filmes.

E é exactamente sobre isso que hoje me apetece falar, sobre a adaptação ao cinema do comic Hulk. Não irei falar sobre o filme de Louis Leterrier pois ainda não o consegui ver todo, aconteceu um insólito durante o visionamento no cinema, uma sintonia muito interessante, e ainda não me decidi a voltar lá, mas hei-de fazê-lo, pelo menos assim espero. O que me apetece hoje é apenas falar sobre o que esta personagem, também muito mal amada pelas pessoas, representa.
Hulk é um homem normal como todos nós, mas que tem um problema grave, ao contrário de nós quando se irrita descontrola-se e deixa sair para fora o monstro que há em si. A única forma de se controlar é através da mulher que o ama, que pelo simples olhar o acalma e o faz voltar a si, em estado normal, isto é.
O que me leva a perguntar, e se fossemos todos assim? Se não fossemos capaz de esconder as nossas irritações? Se à mínima coisa que alguém fizesse ou dissesse, o monstro ficasse à solta? Como seria esse monstro? Quem seria capaz de o dominar? Seria o Amor suficiente para nos colocar no estado normal?
Com o Hulk aprendi que as memórias do passado podem ter esse efeito, que os sentimentos recalcados de uma infância podem dar força a esse monstro que se esconde dentro de cada um. Com o Hulk, cedo aprendi que as coisas que não conseguimos controlar mais tarde acabarão por nos controlar a nós. Desta forma, relembrei que a força está de facto dentro e que o poder de controlar tem de vir de nós e não dos outros. O filme que me ajudou em muito a conseguir desvendar estas questões da personagem foi o do magnífico Ang Lee, onde a sua visão sensível coloca em perspectiva a brutalidade e ao mesmo tempo fragilidade de Hulk. Ang Lee é um dos cineastas mais versáteis que existe e cada vez que coloca as suas mãos num projecto, haverá com toda a certeza muita sensibilidade e visão pessoal, nada menos se espera de tão fabuloso artista.
Nesta história tão simples, mas com tantas camadas de interpretações, ainda consegui relembrar que o controlo da respiração e, por conseguinte do plexo solar, pode-nos ajudar a controlar a Ira.
Depois de tudo isto, resta desabafar como é bom conseguir ver a Beleza em todas as coisas, mesmo naquelas em que aparentemente nada existia.

Num dia de Marte, de Samael e de São Procópio

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