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A Sacerdotisa de Avalon

Ando a ler um livro, ou melhor dizendo, a devorar um livro que ofereci a uma amiga e que agora ela mo emprestou. Como não poderia deixar de ser, e porque o livro me diz muito em termos pessoais, decidi deixar aqui algumas passagens para mais tarde recordar.
Esta passagem tem a ver com a iniciação de Helen, em latim, Eilan, o seu nome em Avalon.

Vieram buscar-me à hora tranquila após a meia-noite, quando apenas aquelas que faziam a vigília à Deusa estavam acordadas. (...)
– Não tentes ver – disseram-me ao ouvido, num sussurro severo. - Os teus pés seguem o caminho de um futuro que não podes conhecer. Deves percorrer este caminho sem olhar para trás para a tua infância, confiando na sabedoria daqueles que já o percorreram, para que te guiem. Compreendes? (...)
– Nua vieste ao mundo – disse a mesma voz áspera que falara antes. - Nua terás de fazer a passagem para a tua nova vida. (...)

– Chegaste ao templo da Grande Deusa. Para que saibas, ela toma tantas formas quantas toma a feminilidade, e, no entanto, é singular e
suprema. Ela é eterna e imutável, e, no entanto, apresenta-se-nos com uma forma diferente em cada estação. É virgem, para sempre intocada e pura. É Mãe, a Fonte de tudo. Ela é a antiga Sabedoria que perdura para além do túmulo. Eilan, filha de Rian, estás pronta para aceitá-la em todas as Suas formas? (...)
– Assim seja... – foi o murmúrio de assentimento de todo o círculo, e senti que começava a descontrair-me. (...)
– Eu sou a flor que desabrocha do ramo – disse a Donzela (...) – Eu sou o crescente que coroa o céu. Eu sou a luz do Sol que cintila na onda e a brisa que arqueia as ervas novas. Homem algum jamais Me possuiu, e todavia sou o fim de todos os desejos. Eu sou a Caçadora e a Sabedoria Sagrada. Espírito da Inspiração e Senhora das Flores. Olha para a água e nela verás o meu rosto espelhado, porque Me pertences...
– Eu sou o fruto que cresce nos ramos. Eu sou a Lua cheia que governa o céu [diz a Dama]... Eu sou o Sol em todo o seu esplendor, e o vento quente que amadurece o grão. Entrego-me na altura e na estação própria, e produzo Abundância. Eu sou a Amante e Mãe, dou à luz e devoro, Eu sou a amante e a amada, e um dia pertencer-Me-ás... (...)
– Eu sou a noz que pende do ramo sem folhas [diz a Mulher Sábia] (...) Eu sou o quarto minguante, cuja foice colhe as estrelas. Eu sou o Sol quando está no poente, e o vento frio que prenuncia as trevas. Estou madura de anos e de sabedoria; vejo todos os segredos para além do véu. Eu sou a Bruxa e Rainha das Colheitas, Feiticeira e Sábia, e um dia tu hás-de pertencer-Me... (...)
– Que a água que é o sangue da Senhora te purifique - ergueram-se um murmúrio de vozes, enquanto as outras jovens as imitavam - Que a água arraste consigo todas as manchas. Que dissolva tudo o que oculta o teu verdadeiro eu. Mantém-te imóvel e deixa a água acariciar o teu corpo, porque da água que é o ventre da Deusa estás a renascer. (...)
– Ergue-te agora; Eilan, purificada e brilhante, revelada em toda a tua beleza. Ergue-te e toma o teu lugar entre nós, Donzela de Avalon!
Esta é uma das descrições de iniciações mais lindas que já li. Obviamente que é romanceada e que está elevada ao máximo, mas não deixa de ser possível de realizar e de se tornar ainda mais bela.

Num dia de Marte, de Samael e de Santa Maria Madalena

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